Há merdas que não se explicam, mas como tenho a mania que sou esperto, vou tentar. São oito da noite, é dia de San Patrics. Como muitos bares pelo mundo fora a noite é dedicada à Irlanda. A cerveja está verde e os drop kick murphies estão a bombar nas colunas Mas este não é um bar qualquer, é o vinateria em el chalten e em el chalten só há dois tipos de pessoas: os locais e os turistas que gostam de montanha.
É que aqui não há mais nada para fazer, ou sobes montanhas a pé ou sobes montanhas a pé para escalar. É que não há mesmo mais nada. tens dinheiro? Azar, estás no sitio errado. Tens de subir a pé na mesma. Não há alternativa.
Por isso, neste bar, só há um tipo de pessoas: as que passaram o dia na montanha a caminhar ou escalar. Estamos todos aqui pelo mesmo e como tal somos todos amigos, irmãos ou outra cena qualquer que nos aproxima. Os nossos olhares são cúmplices, os nossos passos lentos, o nosso amor pela montanha partilhado.
Aqui o rei é o Fitz Roy e se não te roeste de inveja ou de saudade ao ler este nome não sentirás este texto como nós, a malta que sonha com montanhas.
Hoje foi o dia de atacar o Fitz Roy. Nós os eternos principiantes da montanha e escaladores de quinta categoria (no tempo em que escalávamos) ficamos felizes de ver as montanhas de perto sem as subir. Saindo de el chalten são quatro horas até à laguna dos três que nos leva bem perto do dito cujo. Não é fácil a subida, e para a João que continua lesionada, estava fora de questão e ficou-se por uma caminhada de quinze quilómetros que mesmo assim a levou perto e com vistas espetaculares.
Eu comprei o bilhete completo. Fui bem lá acima e ainda fiz uns extras. Quase 40 Kms com mais de mil metros de desnível em quase dez horas de caminhada. Um dia em cheio. Que fique registado que a subida final, uma violência de 400 metros de desnível em mil metros de percurso vale, mais ou menos, meia besta na escala Freita. É duro, mas para quem já levou com o Moutinho na Freita é uma brincadeira.
Se não perceberam esta comparação é normal, há merdas que não se explicam.
bem lá no alto