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Jesus onde estás tu?

Texto originalmente publicado no díario de uns ateus em Maio de 2023.


Olhando para trás é curioso pensar que foi a busca por Jesus que, em parte, me moldou e fez de mim o que sou hoje. A minha memória não é grande coisa, por isso não posso garantir que tenha sido o encontro com Jesus que me tenha mudado radicalmente, ou mesmo se essa mudança existiu, mas do que me lembro foi. Também é sabido que as memórias não são de confiança e que vão sendo reescritas na nossa cabeça à medida que puxamos por elas; portanto qualquer pormenor que tenha estado ocultado de mim nos últimos anos e que me venha, como por magia, à memória tem uma grande probabilidade de ser falso. Por isso, correndo o risco de não se ter passado exactamente assim, vou contar a estória como me ocorre.

Comecemos pelo início. No início deus criou os céus e a terra, ao que consta. Mas este não é o início que queremos. Tentemos de novo:

Sou o mais novo de quatro filhos. Os dois ?ou terão sido os três? mais velhos foram submetidos à praxe da catequese e rituais afins mas quando chegou a minha vez, a minha mãe devia estar farta de os aturar a reclamar e já não teve  energia para me submeter a esses costumes tribais. Também pode ter sido por termos mudado de local de habitação o que nos deixou mais longe da igreja. Não sei. Só sei que nunca vi nem nunca me apercebi de uma coisa chamada catequese. Eu não ia, não me lembro de ter amigos que fossem, era algo completamente fora do meu conhecimento. Na nossa casa não se ia à missa nem se lia muito, por isso cresci como se cresce no campo longe de todas as influências religiosas, políticas ou intelectuais.

Era um verdadeiro Tom Sawyer e pouco mais que brincar na rua me interessava. À medida que fui crescendo e até aos 18 anos quando fui para a tropa pouco mudou. Aluno razoável, ingénuo com amigos ingénuos, sem gostos musicais, culturais ou o que quer que fosse. Ia à escola, vinha da escola, jogava à bola na rua e lia livros da Marvel e do Tio Patinhas. Tenho uma memória muito forte de um momento em que a minha tótózisse é quase palpável: Um colega ia fazer o interrail. Coisa rara! Foi a única vez que ouvi falar nisso antes da minha idade adulta e na altura pensei: wtf! Corrijo, wtf ainda não existia. Hhmmm? Vai viajar de comboio pela Europa? Para quê? Qual o interesse disso? Esta malta com dinheiro tem ideias muito parvas. Foi assim que me mantive até à minha busca por Jesus. Quer dizer, não sejamos mais papista que o papa e deixemos os dramatismos; não tenho memória da evolução de todas as características que fazem de mim o que sou hoje e que me colocam a milhas do que fui até ao início da idade adulta, mas tenho a forte convicção que foi a busca pelo “senhor” que me deu o espírito crítico que acabaria por me trazer até ao activimo nas comunidades céptica e ateia, características que são uma parte importante da minha persona.

Intervalo! Deixem que vos diga que tenho zero interesse em convívios de amigos de infância ou adolescência. Na altura eramos todos putos parvos com um interesse em comum: a parvoíce. Cada um de nós seguiu o seu caminho e evoluiu em direções opostas. O que raio temos em comum agora? Claro que com alguns ainda existem interesses comuns. Com esses mantenho ligação. Os outros não me interessam. Há uma grande probabilidade de terem ido em direções incompatíveis com a minha. Dispenso correr riscos para rever pessoas que não são quem foram e que conheci quando era quem não sou. Vivam os amigos novos compatíveis com o eu actual.  Fim de intervalo.

Voltemos ao cerne da questão. Algures nos vintes cruzei-me com o ‘senhor’. Era na altura apateista, ou seja, completamente ignorante de questões de religião. Não sabia, não queria saber… erro! Não querer saber precisa que exista algo para saber e que nos recusamos a saber, eu nem sabia que havia coisas para saber. Considero que o apateismo é, no que toca a crenças religiosas, a melhor solução para uma sociedade. Uma sociedade onde a questão de deus nem sequer é questão da mesma maneira que nas sociedades actuais não se coloca a questão se o sol vai nascer amanhã.

Bem, dizia eu, estava muito bem eu no meu apateismo quando um acumular de referências a Jesus me chamou a atenção. Claro que eu sabia o que eram os padres, a igreja Católica, jesus etc. etc, simplesmente não ligava nenhuma da mesma maneira que um gato ignora … vá.. tudo. Mas a determinada altura fiquei curioso: mas afinal o que há de tão especial nessa personagem para tanta gente falar dele como se ele fosse.. digamos… deus? Eu sabia que era o gajo na cruz e que tinha morrido crucificado, nascido de uma virgem e essas coisas básicas que até os católicos sabem, mas eu queria perceber um pouco mais. Porque essa loucura pelo moço?

Então o que decidi fazer? Ler um livro sobre o assunto, claro. O horror dos horrores! Ler um livro sobre Jesus Cristo? Um livro assim sem mais nem menos? Daqueles que se compram numa livraria? Sem o selo de aprovação da Igreja? A desgraça estava iminente!

Não me lembro onde o comprei nem que livro era, seria algo como “Jesus: quem realmente foi”. Também não me lembro do conteúdo, mas devia falar das inúmeras versões dos evangelhos, dos evangelhos ignorados e das más traduções e disso eu lembro-me! Ficou marcado a ferro e fogo na minha memória e fez emergir em mim uma bomba de incredulidade. Porra! Como é possível uma asneira destas? Anda tudo doido com este gajo e afinal um dos pontos mais vincados da estória dele é uma má tradução? Fiquei automaticamente ateu. Zás! Foste! Essa pequena descoberta fez de mim um super-ceptico. Raios! Se isto é mentira, o que mais será? Se anda toda a gente enganada com isto, com que mais andarão? Não sei se foi bem assim, mas é assim que me lembro. Realço que ser ateu nada ou pouco tem a ver com acreditar ou não na estória de Jesus Cristo, mas na altura, assim como muitos católicos hoje em dia, eu não sabia isso.

Desde essa altura já li a bíblia (coisa que curiosamente poucos católicos se interessam em fazer), li inúmeros livros e artigos científicos sobre o assunto, tirei cursos online, enfim uma perda de tempo gigantesca num assunto que não merece o tempo que lhe dediquei. Estou a brincar, claro que merece. Afinal é baseado nas estórias deste moço Jesus que a Igreja Católica e outras que tais continuam a tentar mandar nas nossas vidas.

E porra, é fascinante! Um dos maiores impérios que já existiu tanto em extensão geográfica como cronológica assenta numas historietas da carochinha que pouca ou nenhuma correspondência com a realidade têm. Não me digam que não é o golpe do século? que digo? Da história da humanidade!

E afinal qual foi a grande má tradução que me fez ver a luz? Foi uma coisa tão simples: no antigo testamento há uma passagem que fala em jovem e traduziram como… virgem.

Porra, afinal a mãe do gajo não era virgem, afinal era um gajo como outro qualquer, anda tudo parvo por coisa nenhuma! Pensei. Hoje em dia dou muito pouca importância a essa má tradução, os problemas com a bíblia são tantos que isso é apenas um pormenor.

Graças a esses “problemas” sou, hoje em dia, adepto da teoria do mito de jesus, ou seja que nunca existiu uma pessoa que correspondesse minimamente ao que é descrito nos evangelhos. Foi simplesmente a invenção de um herói por um povo oprimido como aconteceu tantas outra vezes na história, como por o exemplo o famoso rei Artur cujas lendas deram fama ao cálice da última ceia, o famoso Santo Graal.

 

Bem, isto tudo para chegar aqui, ao que queria efectivamente escrever e que, por artes mágicas, ficou um bocado maior. Podem ignorar tudo o que está para trás. Este texto devia começar assim:

Os evangelhos contam a estória de um tal Jesus de Nazaré, deus e filho de deus que foi crucificado e ressuscitou 3 dias depois. Tirando o que nos dizem os evangelhos o que sabemos exactamente sobre esses acontecimentos? Usar os evangelhos para confirmar a existência de Jesus é como usar os livros escritos por J.K.Rowling para confirmar a existência de Harry Potter. O que dizem os historiadores da altura? Porque é que uma personagem, tão importante segundo os evangelhos, é praticamente ignorada por todos os outros autores? Quem escreveu os evangelhos? Sabemos que os nomes a que estes foram atribuídos foram acrescentados posteriormente. Sabemos que há más traduções, sabemos que há partes acrescentadas posteriormente, sabemos que há muitos mais evangelhos que não foram consideramos verdadeiros porque continham relatos que não interessava a quem mandava na altura. Enfim sabemos muitas coisas que tornam toda a estória muito pouco credível.

Estes assuntos são alvo de muita informação na Internet, mas pouca coisa em Português de Portugal, lacuna que foi finalmente resolvida. O amigo Paulo no seu canal Quem Escreveu Torto por Linhas Direitas fez um vídeo de uma hora sobre o assunto. Vale a pena ver, mas fiquem avisados: o video levanta muitas perguntas, não só devido à quantidade de informação que apresenta, mas também porque, na minha opinião o Paulo dá como certas conclusões que não estão bem justificadas no video e que eu me sentia mais confortável que fossem apresentadas com menos certezas.

Vejam aqui: Terá existido Jesus da Nazaré

Devaneio do Verão de 2023

“É a bola ou o correio da manhã?”

“Nã… é um jornal a sério”

“ah…ok”.

A resposta saiu-me espontânea, sem tempo para pensar saiu arrogante e inútil. Ainda disse “este tem desporto que chegue…” mas o meu interlocutor já tinha desligado. Agora com tempo uma resposta melhor ocorreu-me “nã.. é o público. O CM é só desgraças, traz pouco de interessante e a bola é só futebol, este pelo menos fala de todos os desportos” … bah! Muito longo também não serve. Devia ter enveredado por algo mais socrático “Só posso escolher uma dessas duas opções?”

Minutos antes tinha estado a observar a mesa do meu interlocutor. Eram 3 ou 4 homens, 2 mulheres, uma adolescente e dois crianços. Elas, não eram, mas pareciam ciganas à conta dos cabelos liso e compridos; os crianços brincavam com armas de plástico made in china, já não me lembro da última vez que tinha visto semelhantes artefactos.

Na mesa ao lado, mesmo à minha frente, um casal de leste com Português quase perfeito partilhava mesa com um casal Português de meia idade, no braço uma tatuagem de um coração onde se lia “amor de mulher”. O assunto eram os problemas conjugais do costume; Se bem percebi o cidadão de leste ainda tinha menos vontade de se dedicar à bricolage do que eu.

Um casal novo, mulato e com ar urbano estava na fila para pagar. Pareciam peixes fora de água naquele ambiente branco, rural e parado no tempo.

O pessoal do “restaurante” também não parecia encaixar bem. Atrás da caixa com voz calma, barba curta, óculos e pouco cabelo fez-me lembrar o Rui Tavares. Não que fossem parecidos! Se o afirmasse em tribunal perdia com toda a certeza, mas a mim, lembrou-me o Rui. Já o moço que me serviu, cabelo apanhado, barba aparada, brincos, tatuagens abundantes e sotaque brasileiro ficava mais enquadrado no Extramuralhas do que aqui e destoava tanto como eu com o meu jornal que ainda por cima não era nem a bola nem o correio da manhã.

Sinto-me em Marrocos, é o que a “falta de sofisticação” do “restaurante” me faz lembrar. Não! É A Áustria; a ruralidade faz-me lembrar aquela festa relacionada com os madeireiros onde caímos de paraquedas. Faltam os suspensórios, mas tem salsichas. Ou será que parece mais a Argentina com pessoas simplesmente a apreciar a vida? Na realidade, tem muito pouco a ver com cada um dos cenários, mas sabe bem vê-los assomar à memória por tão pouco.
As ligações que faço entro o que vejo e o que leio no jornal (que não é a bola nem o correio da manhã) são de relação duvidosa, há que não tirar demasiadas conclusões. Não o faço. Limito-me a ginasticar os pensamentos, fazer jogos mentais que exercitam o raciocínio: Misturo tudo num pot-pourri de ideias, bebo um copo para limpar e começo de novo.

Estava, portanto, nas minhas sete, ou talvez mais, quintas a ler uma entrevista a um moço que é assistente social e/ou investigador em bairros problemáticos em Lisboa, a fazer people-watching e a misturar com o filme do dia anterior, o “A Primeira Purga”, onde num futuro próximo num bairro de Nova York é feita uma experiência radical: durante 12 horas não há ilegalidades. Nesse filme vale tudo até arrancar olhos. Sob o pretexto de deixar as pessoas descarregarem as frustrações da vida através de actos de violência gratuita, o objetivo é diminuir a população pobre.

Isso faz-me lembrar o artigo de ontem sobre a definição de partidos de extremistas e partidos radicais. Olho à minha volta. Quantas destas pessoas estão piursas da vida e vão votar no Chega porque eles é que vão acabar com <preencher com coisas que não se gosta>?

O texto de um tal Casanova sobre o futebol nas Arábias lê-se muito bem e o de uma moça enfermeira sobre educação sexual, idem-idem aspas-aspas. O arroz está um bocado empapado, mas o vinho escorrega bem. Dou por mim a jurar que não volto a passar tanto tempo sem comprar um jornal.

 

A verdade existe?

Há dias assim, uma partilha no Face, um comentário e um turbilhão de pensamentos à volta desses insignificantes factos. Os pensamentos têm tendência para ficar colados e das duas umas ou espero alguns dias até descolarem ou transfiro-os para o papel. A verdade existe? Sim, existe e podemos alcançá-la. Já a Verdade, não sei e sinceramente não me interessa pessoalmente. A verdade chega-me e sobra-me.

Este texto nasceu de parto natural, ou seja, no Facebook. A mãe é a socióloga Eva Illous e o pai um amigo jornalista que por motivos óbvios vai ficar anónimo.

“O que aconteceu na cultura ocidental para as pessoas se desinteressarem do próprio conceito de verdade? De facto, se os mentirosos são hoje bem-sucedidos, é porque a verdade já não é tão importante para nós”.

Foi a minha partilha no Facebook deste excerto do artigo “Sem Verdade Não há democracia” de Eva Illouz [a] que iniciou a gestação deste texto. Isto, porque após uma pequena troca de comentários entre mim e o Amigo Jornalista Anónimo (AJA), este terminou a conversa com “uma verdade: gosto disto mas tenho de ir trabalhar” rematando com “interpreta como quiseres”. Ok, desafio aceite. Vamos a isso!

Rápido e bem, não há quem

Fazemos inúmeras decisões todos os dias e não podemos gastar o tempo e energia suficiente para as resolver todas de modo 100% racional. Além disso, muitas das decisões são de pouca importância e o custo de as errar é menor que o custo necessário para as analisar em toda a sua complexidade: quem é que se dá ao tempo e trabalho mental de analisar TODAS as variáveis para escolher o melhor lugar numa esplanada?

Para essas decisões do dia a dia, usamos o “modo de pensamento tipo 1” 1,2 que faz uso de heurísticas 3 para obter uma resposta rápida. Assim, ao invés de analisarmos toda a situação, usamos o conhecimento adquirido em problemas anteriores semelhantes para obter uma resposta e respectivo modo de actuação.

Considerando a minha interacção ao longo de muitos anos com o AJA, não tenho motivos para duvidar dele e, além disso, o custo de estar errado é irrelevante. Como tal, a decisão sobre a veracidade dessa afirmação envolveu meio neurónio e um nanossegundo e o resultado é obviamente positivo: sim, é verdade.

Mas vêem aqueles braços frenéticos no ar lá ao fundo? São os PIM, os Picuinhas Irritantes e os Metafísicos 4 (distinção feita porque há picuinhas irritantes que não são metafísicos). Em situações normais devemos ignorá-los, mas como estamos aqui para complicar vamos fazer de conta que este problema é mais complicado do que aquilo que é.

Entidades não devem ser multiplicadas além do necessário

Mas antes de complicar vamos fazer uma visita ao nosso amigo Guilherme de Ockham 5. É em sua homenagem que foi dado o nome ao princípio da “navalha de Ockham”, um raciocino de base heurística que defende que “entidades não devem ser multiplicadas além do necessário”: Se as explicações que estamos a dar são demasiado rebuscadas, é porque não estamos a ir no caminho certo. Ou para simplificar: as respostas complicadas devem ser evitadas. A navalha de Ockam pode não ser muito conhecida, mas os seus princípios estão espelhados num acronímico bem mais comum, o KISS (Keep It Simple, Stupid) 6.

“O AJA está a mentir, o que está a acontecer realmente é que está a ser ameaçado por extraterrestres”. Para esta explicação ser verdade, têm de ser verdade uma série de afirmações: existem extraterrestres, visitam a terra e ameaçam pessoas. À luz do conhecimento actual, nenhuma dessas afirmações é verdade. Claro que há quem pense que sim, mas pertencem a uma categoria que nos interessa menos que os PIM: a malta das teorias da conspiração que acredita que os extraterrestres nos visitam e que “eles” sabem e mentem-nos sobre isso.

Agora sim, complicar o simples

O problema é que sou ciumento! E se o AJA me está a despachar para ir conversar com outro amigo? Nas palavras imortais da Peg, temos um grande problema!

Nesta situação a questão ganha importância, e como tal merece mais reflexão. Sem factos não vou conseguir saber se o AJA mentiu, mas posso tentar calcular essa probabilidade. Foi o que fiz de modo não formal com a resposta que dei: “tendo em consideração os factos: tenho-te em boa conta, tens um trabalho com horários da treta: considero essa afirmação verdadeira”. Se quisermos tornar este raciocino mais formal podemos atribuir-lhe valores.

No entanto cometi um erro na resposta, por isso temos de a corrigir antes. O que o AJA disse foi “gosto disto mas tenho de ir trabalhar”, logo não devia ter respondido “…tenho-te em boa conta, tens um trabalho com horários da treta… “, mas sim “…sei que gostas deste assunto, tens um trabalho com horários da treta e à priori, tenho-te em boa conta”. O “tenho-te em conta” é um conhecimento que vem de trás e que deve ser tido em conta ao analisar a afirmação actual. Já sabemos que o AJA é de confiança, logo a probabilidade de ser verdade a frase dele aumenta, o que, aliás, fizemos logo na primeira avaliação.

Este tipo de raciocínio leva-nos em direcção ao teorema de Bayes 7 que como o Sebastião vos poderá dizer, está no meu coração. Mas por agora já temos muito mato para desbravar e se colocar o Bayes ao barulho sou capaz de nos perder no meio do caminho. Sendo assim, avancemos sem nos preocuparmos com a confiança prévia no AJA:

  1. Probabilidade do AJA “gostar disto”: Eu conheço o AJA há muitos anos, este assunto interessa-lhe, mau seria que sendo jornalista não lhe interessasse. É um assunto sobre o qual já falámos muito e pelo qual temos grande paixão e opiniões convergentes. Atribuo a essa afirmação o valor exageradamente baixo de 95% de probabilidade de ser verdadeira. Há sempre a hipótese de ele já estar farto de falar sobre este assunto ou de não estar a achar interessante esta conversa específica.
  2. Probabilidade do AJA “ter de ir trabalhar”: Como disse, conheço-o há muito tempo e desde que o conheço, ele sempre trabalhou ao fim de semana. Há sempre a hipótese de ele não precisar de trabalhar este fim de semana e querer ir à praia sem correr o risco de eu me querer colar. De qualquer maneira, não vejo razão para desconfiar dele nesta afirmação, mas é sempre possível estar a mentir por isso vamos apostar nuns baixíssimos 99% de probabilidade de estar a dizer a verdade.

Agora com a ajuda da matemática, calculamos a probabilidade de a frase, “gosto disto mas tenho de ir trabalhar” ser verdadeira, o que acontece quando as duas afirmações analisadas forem verdadeiras:

P(frase ser verdadeira) = P( 1) x P(2)=95% x 99% = 0,95 x 0,99 = 0,9405 ≈ 0,94 ≈ 94%

E ao calcularmos probabilidades com esta precisão não estamos a cometer o crime capital de nos transformarmos em PIs? Verdade que sim, e este exercício não desse ser feito de animo leve. Foi feito aqui, mas na prática deve ser evitado.

Além disso, este tipo de cálculo está carregado de subjectividade e é mais uma arte (manhosa) que uma ciência, logo os resultados obtidos têm de ser interpretados com bastante prudência. Tentemos outro método.

Possível, plausível e provável

Porque só coloquei a hipótese de ele estar a mentir para se ver livre de mim? Por exemplo não seria possível ele estar a ser assaltado e ser obrigado a escrever isso para ele acabar a conversa comigo e poder ser amarrado? Possível é, mas não é plausível. E preocuparmos-mos com o implausível, aqui para nós que os PIM não nos ouvem, é completa e total perda de tempo para 99,99…% da actividade do dia a dia.

Mesmo descartando algumas explicações menos ortodoxas, os cálculos da seção anterior são um exagero e corremos o risco de sermos confundidos com um PI, por isso simplifiquemos o que complicámos anteriormente: Ao invés de calcular percentagens de probabilidade ao milímetro, podemos adoptar a estratégia de dividir as afirmações que estamos a analisar em 4 grandes grupos:

PROVÁVEL

A maior parte dos acontecimentos do nosso dia a dia moram aqui. Uma afirmação (ou explicação) provável leva um rótulo de potencialmente verdadeira até prova em contrário.

PLAUSÍVEL, MAS IMPROVÁVEL

Este é o departamento das afirmações trabalhosas. Especialmente as da subsecção plausível e pouco improvável (a atirar para o lado do provável). Estas afirmações ou explicações devem ser analisadas com cuidado e de preferência confirmadas com factos antes de serem aceites como verdadeiras.

Já as muito improváveis devem ser descartadas sem peso na consciência. Pode o AJA estar a ser assaltado e a escrever sob pressão? Poder pode, mas não é de todo provável. Se ele morasse numa favela do Rio de Janeiro pensava duas vezes nesta hipótese, onde ele mora, não.

POSSÍVEL, MAS IMPLAUSÍVEL

Pode o AJA estar com pressa porque foi convidado para uma reunião super-secreta de super-repórteres que vão revelar toda a verdade? Lamento AJA, não me parece.

Os argumentos que pertencem a esta categoria podem ser descartados sem pensar duas vezes.

IMPOSSÍVEL

Aqui é o mundo dos metafísicos. Podemos confiar nos nossos sentidos? Eu e o AJA existimos ou somos só produto do sonho de uma entidade cósmica? Este impossível é um impossível prático, não é um impossível matemático, há sempre uma hipótese, por mais remota que seja de estarmos a viver na Matrix, mas não me parece que o comum, ou até o incomum, dos mortais deva perder tempo com isto tipo de argumentação.

As afirmações que pertencem a esta categoria podem ser descartados sem pensar meia vez.

Para calcular a veracidade de um conjunto de afirmações, classificamos as afirmações individuais e consideramos a classificação menos provável/mais impossível como resultado final.

Se a frase fosse “gosto disto mas tenho uma loiraça à minha espera”, “gosto disto” é (muito) provável mas “tenho uma loiraça à espera” é implausível (lamento AJA), logo a afirmação é implausível.

Voltando à frase inicial e repetindo o processo feito na seção anterior, mas agora reduzidos a estas categorias. Podemos dizer que ““gosto disto” é (muito) provável e “tenho de ir trabalhar” é (muito) provável, logo a classificação final é (muito) provável. Na ausência de factos, é o mais perto que podemos chegar da verdade.

Factos, queremos factos!

Isto das probabilidades é muito giro, mas só com essa informação não podemos publicar a notícia “AJA abandona conversa para ir trabalhar”. Para isso precisamos de factos: podemos ir espiar o AJA para ver ser está a trabalhar; piratear o PC dele e procurar os emails para ver se o trabalho estava agendado, não vá ter decidido ir trabalhar só para fugir à conversa; podemos inclusive entrevistar os colegas e o editor do jornal.

Após esta verificação, e obtendo resultados positivos, podemos considerar a afirmação verdadeira? Claro que sim, só os PIM é que podem arranjar argumentos para discordar. Vale a pena ouvi-los? Obviamente não, como escreveu, e bem, Almada Negreiros “Morra o Dantas, Morra[m os] PIM”.

Podemos, e devemos, abrir uma excepção feita para assuntos de importância capital e de complexidade elevada como decidir se devemos ou não lançar um ataque nuclear contra outro país. Se calhar aqui convém ouvir os Picuinhas. Quanto aos metafísicos eles que se ouçam uns aos outros e se chegarem a alguma conclusão útil venham cá dizer alguma coisa à malta que está ocupada a viver no mundo real.

É toda a verdade? Talvez não, há sempre a hipótese de haver dados que enriquecem a estória e dão uma imagem mais completa. É mais importante para o AJA trabalhar do que falar comigo? Obviamente não (cof, cof), mas é mais importante ter dinheiro para comer do que falar comigo. Acrescentar que ele trabalha porque, como todos nós, precisa de o fazer para ter dinheiro para viver podia dar uma imagem mais real da verdade. Mas factos como esse são dados como adquiridos pela maioria dos mortais. Acrescentar essa informação seria chover no molhado.

Conclusão

A verdade existe? Sim.

Podemos chegar à verdade? Sim em muitos casos, lá perto em outros e nem por isso nos restantes.

Devemos ouvir a opinião dos Picuinhas Irritantes e Metafísicos. Nope.

Referências

1. Smith, J. What Is ‘System 1’ Thinking—and How Exactly Do You Do It? | Observer. https://observer.com/2017/09/what-is-system-1-thinking-and-how-do-you-do-it/.

2. Kahneman, D. Thinking, Fast and Slow. (2011).

3. Heurística – Wikipédia, a enciclopédia livre. https://pt.wikipedia.org/wiki/Heurística.

4. Metafísica – Wikipédia, a enciclopédia livre. https://pt.wikipedia.org/wiki/Metafísica.

5. Navalha de Ockham – Wikipédia, a enciclopédia livre. https://pt.wikipedia.org/wiki/Navalha_de_Ockham.

6. Princípio KISS – Wikipédia, a enciclopédia livre. https://pt.wikipedia.org/wiki/Princípio_KISS.

7. Teorema de Bayes – Wikipédia, a enciclopédia livre. https://pt.wikipedia.org/wiki/Teorema_de_Bayes.

8. Illouz, E. A brief history of bullshit : Why we ’ ve learned to ignore truth. 1–9 https://www.haaretz.com/israel-news/.premium.MAGAZINE-a-brief-history-of-bullshit-why-we-ve-learned-to-ignore-truth-1.7837206 (2019).

9. Illouz, E. Il n’y a pas de démocratie possible sans vérité. https://www.courrierinternational.com/long-format/idees-il-ny-pas-de-democratie-possible-sans-verite.

  1. O artigo foi publicado em Portugal no Courrier Internacional de Março de 2020 e está disponível online Em Inglês 8 e Francês 9.


Artigo publicado originalmente na Revista Devaneios

Aperfeiçoamento Filosófico do dia : Deus

Deus é a desculpa fácil às perguntas para as quais não temos uma resposta boa e é consequência da nossa dificuldade em aceitar a resposta “não sei”.

A minha teoria anterior dizia que “Deus é a resposta fácil…”, mas parece-me um exagero. Uma resposta, mesmo fácil, tem de ter algum sentido, alguma verdade por mais pequena ou incompleta que seja.

Por Exemplo:

Pergunta:
Pai, de onde vêm os bébés?

Resposta Fácil:
Quando um homem e uma mulher gostam muito um do outro,  o homem mete uma semente na barriga da mãe.

Desculpa Fácil: 
Vêm de Paris trazidos por uma cegonha.

BNI ou Como o marketing agressivo à Americana (somos bons, somos muito bons) vai enganando os ingénuos

Tinha aqui este assunto pendurado à espera de encontrar mais informação, mas o tempo passou e não consegui reunir mais dados. Não vou procurar activamente mais informação, mas se entretanto me cair nas mãos, eu público aqui. Isto é (mais ou menos) o que tinha escrito como comentário no Facebook sobre o artigo do Região de Leiria:

Fartei-me de procurar e (ainda) não encontrei provas conclusivas de que estamos a falar de um esquema em pirâmide. Mas já encontrei algumas referências a isso (com directores e afins a ficarem com parte das anuidades) e espero entretanto ter mais dados.
Mas a uma conclusão cheguei: o BNI é um culto! É definitivamente mais uma daquelas empresas que usam marketing agressivo para colocar os clientes/sócios na defensiva. Tem regras rígidas e usa esquemas de motivação “à Americana” (muitas palmas para os “bons” e BUUUUSSS para os “maus”) e que além disso vende toneladas de merchandising.

Os “chapters” (é o termo usado em Inglês para cada grupo, a fazer lembrar um livro religioso) vivem de novos sócios (para a BNI os vossos hipotéticos negócios não interessam nada, o que interessa são as anuidades/vendas de merchandising/pequenos almoços), e a sua busca agressiva é incentivada. Preparem-se para começar a ser “melgados” para ir assistir a uma missa/reunião.

Em termos de resultados práticos, o que consegui apurar é que em média em cada “chapter” há um ou dois clientes/membros que ganham muito e os restantes perdem (aplica-se a lei de Pareto:20% vão ganhar 80%).

Comparem muito bem os custos /benefícios de pertencer ao BNI ou a uma associação normal (tipo NERLEI) antes de aderirem.

E se estão a pensar aderir, leiam isto antes (artigo e comentários):

http://www.grumpynerd.com/?p=10%C2%B4

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Actualização 26/11/2011
Este artigo tem tido sido relativamente bem visitado, infelizmente ninguém pontua ou deixa comentário.
Se alguém se desse ao trabalho de o fazer agradecia.
Tenho realmente interesse em perceber que tipo de artigo vêm à procura,  o que é que achavam do BNI, se mudaram de ideias, se acham que sou parvo …
Actualização 7/10/2011:  O site BNI SUCKS desapareceu do mapa e não deixou rasto…
Actualização 18/4/2011 :  Video a explicar o problema do optimismo palerma  : RSA Animate – Smile or Die
Actualização 5/4/2011 :  O moço do site acima mencionado criou o site  BNI SUCKS

Parábola : A Invenção Maravilhosa

1. Como transformar alhos em bugalhos

A parábola é uma magnifica figura de estilo que tem permitido à Igreja Católica adaptar-se a novas realidades sem nunca se desmentir : O que ontem era Verdade, hoje é uma parábola.
Durante séculos a Bíblia  foi interpretada à letra e foi justificação para todo o tipo de horrores, mas à medida que a civilização evoluía as pessoas começavam a questionar as justificações que a Igreja invocava para as suas acções obrigando-a a renunciar a muitas delas. E assim, a pouco e pouco, e à medida que a Igreja tinha cada vez mais dificuldades em fazer aceitar as suas acções,  e para não se desmentir, a Igreja foi transformando as Verdades em parábolas até chegarmos ao ponto de praticamente não haver Verdades na Bíblia, só parábolas:
Deus mata e castiga? é parábola. Deus é vingativo e invejoso? é parábola. Deus não gosta de homosexuais? é Verdade. Deus defende a castidade? é Verdade.
Não é muito difícil ver o padrão; se determinada atitude/sentimento não é aceite pela esmagadora maioria da sociedade, transforma-se em parábola. Este processo de “parabolização” não é obviamente igual em todo o lado. Por exemplo, há poucas semanas, o pastor que dirige uma determinada seita evangélica nos Estados Unidos disse que rezava para que o Obama morresse, e de preferência com cancro. Ora, uma pessoa que admite na televisão uma atitude tão radical  (e louca) não terá com certeza problema nenhum em aceitar que o seu Deus mata e castiga. Ele não precisa de inventar desculpas para as atitudes descritas na Bíblia, porque concorda com elas .

2. Parábolas para todos os gostos

Este truque das parábolas não tem ciência nenhuma, se quisermos podemos aplicar parábolas a tudo, desde a história da carochinha até aos Lusiadas e transformar livros que foram escritos com um intento noutro completamente diferente. É claro que estes exemplos não serviriam tão bem como a Bíblia pois falta-lhes a diversidade de uma sociedade complexa. Mas se pegarmos num livro como a “Guerra pela Civilização” de Robert Fisk que retrata décadas de guerra nas zona dos Balcãs e Médio Oriente, podemos dizer que estamos a olhar para uma versão actualizada da Bíblia. Ambos retratam a história da mesma zona do mundo, ambos falam de problemas civilizacionais e ambos falam de histórias pessoais.
São ambos livros de História, com a diferença de que na Bíblia não é possível distinguir a realidade da ficção, é como o relato de um pescador: até acreditamos que ele apanhou um peixe, mas estamos quase certos que está a exagerar no tamanho.
Não tenho qualquer dúvida que um bom orador munido simplesmente do livro de Robert Fisk podia fundar  uma religião, recheada de belas parábolas, bastando-lhe para tal, uma audiência suficientemente receptiva e pouco esclarecida.

3. No fim, era a parábola

As parábolas são “armas” poderosíssimas, podem servir para o que quisermos : transformar histórias de amor em violência e histórias de violência em amor.
A Igreja inventou inúmeras parábolas na Bíblia, mas a derradeira parábola na Bíblia, é Deus. Deus existe ou é uma parábola? Deus é um ser omnipresente e omnipotente ou não passa de uma parábola sobre a consciência humana? Porque não reduzir Deus a um punhado de sentimentos: amor, inveja, ódio, etc..?
A Igreja Católica faz as interpretações  que quer e lhe interessa da Bíblia, porque não podemos nós fazer o mesmo e dizer: Deus não existe, é uma parábola! Aliás, para ser justo, há que dar o crédito a alguns teólogos que já dizem (quase) o mesmo.
Dizem eles que: Deus é Amor. Tirando o facto de estarem a fazer  batota e a reduzir Deus a um sentimento quando existem tantos, eles fazem o mesmo que eu :
Negam que Deus tenha inventado o homem e que foi antes o homem a inventar Deus.

 

Nazaré, Setembro de 2009

“América a Bem ou a Mal”

Para os mais distraídos – e para os mais cínicos – os EUA são um país dito normal ou ocidentalizado, que é um termo muito em moda e que cai sempre bem. A verdade é que os EUA não são um país, são pelo menos dois.

Um que é parecido com a Europa, lúcido e ciente do seu lugar no mundo como um país como qualquer outro, enfim, talvez um bocadinho melhor.

E o outro? Bem, o outro é uma espécie de Europa medieval, furiosamente louca com todos os que não concordam consigo e que TEM de à força dominar o mundo, porque foi esse o destino que DEUS lhes deu. É esse país, de pensamento estranho para nós, – que só reconhecemos no fundamentalismo islamismo e que recusamos aceitar existir noutras latitudes – que tem dominado os EUA nos últimos anos. Este país conhecido como “Bible Belt” deu-nos algumas personagens “simpáticas” como Dick Cheney, Donald Rumsfeld e  George W. Bush que a pretexto de estarem a fazer o trabalho de deus – entre outras desculpas – invadiram o Iraque. São estes e outros como eles que fornecem armamento a Israel porque, como vem escrito na biblia, aquela zona do planeta foi dado aos israelitas por deus e como tal é seu por direito!

Felizmente as coisas estão a mudar com a nova presidência Americana, mas não pensem que podemos ficar descansados. É que enquanto a América “normal” aceitou democraticamente e sem contestação violenta as governações da América nacionalista/religiosa, o contrário não se vai/está a passar.  Basta assistir ao canal noticioso Fox para ver como os nacionalistas estão a reagir MUITO mal à perda de poder. Na Fox passam-se coisas deste género:

“… The only chance we have as a country right now is for Osama Bin Laden to deploy and detonate a major weapon in  the United States…”
Dito por Michael Scheuer, ex-chefe da unidade da CIA de contra-terrorismo responsavel por capturar Bin Laden, referindo-se ao facto de administração Obama ter uma postura muito “soft” em relação ao terrorismo e que vai levar à “derrota” dos EUA.

Quando li, há alguns meses, a previsão do analista Russo, Igor Panarin, sobre a divisão dos EUA em vários países achei que ele era louco, mas agora já não tenho tanta certeza.

Acham que estou a divagar? Se alguém divaga não sou eu, porque (quase) tudo o que aqui escrevi são teorias defendidas no livro “América a Bem ou a Mal” de Anatol Lieven, Tinha da China, 2007 e que nos leva a conhecer o fanatismo nacionalista existente nos EUA. Aconselha-se vivamente a quem esteja, realmente, interessado em conhecer melhor o famoso país do sonho.

Mais em:

Marinha Grande, Agosto de 2009

Santa Hipocrisia

Na edição de Verão do boletim das paroquias da baixa chiado que podem ler AQUI, o Cónego Armando Duarte admitindo que está a puxar a brasa à sua sardinha apela ao voto em Santana Lopes que, segundo ele, é um homem de palavra, de visão, justo e com vergonha. Mas, apesar de todos estes belos adjectivos,  o principal, e várias vezes repetido, argumento é que “Em 2002, mal tomou posse, o Dr. Santana Lopes recebeu-nos e aproveitou para nos dizer que queria ajudar na reabilitação das nossas igrejas.”.

Acho este apelo lamentável por várias razões:

1. A Igreja – leia-se “instituição religiosa de influência cristã com chefe em Roma” – tem a mania que representa deus na terra, e como tal há muitas pessoas que acreditam que isso é verdade. Os membros de uma instituição que se julga assim tão importante tem de ter muito cuidado com o que dizem, porque há pessoas que julgam que o que eles dizem é verdade absoluta. Apelar aos crentes que estejam atentos à sociedade e que intervenham nas decisões, parece-me bastante bem, apelar ao voto em X ou Y parece-me bastante mal.

2. A Igreja tem a mania que está acima da lei, não gosta de pagar impostos e tem direitos especiais que mais ninguém tem, obtidos através de contratos – concordatas – realizados com o Estado. Não me parece próprio que uma instituição que reclama para si este tipo de privilégios se meta na politica desta maneira. Das duas uma, ou são especiais porque os seus princípios são nobres e altruístas e calam o bico sobre inclinações politicas ou são como todas as outras associações/instituições, dizem o que querem, mas pagam como todos e sujeitam-se às regras da sociedade como todos.

3. A Igreja tem a mania das virtudes e representantes seus vêm apelar ao voto num Playboy! Sim,porque é muito bonito defender as virtudes, mas quando chega o momento da verdade, as virtudes que se lixem, o que interessa é…Dinheiro!
A única razão para se escolher Santana Lopes é porque ele prometeu ajudar na reabilitação das igrejas. Diz a Igreja que a nossa sociedade está condenada à desgraça; é hedonista, materialista, egoísta e esqueceu os valores morais e cristãos. Mas vem o senhor cónego apelar ao voto num indivíduo (que não segue os preceitos morais da Igreja), não porque ele ajuda os pobres ou os desfavorecidos, mas porque ele promete … dinheiro.  Santa Hipocrisia.

Irão : ditadura ou democracia?

Há algumas semanas fui ver o Persepolis aquando da sua projecção pelo Projecto *Aurora em Rio Maior.

Antes do filme, e como é costume, o mentor do projecto – que tem nome, mas que eu não me lembro – fez uma apresentação do filme onde falou do Irão como ditadura.

Ora bem, no Irão há eleições e como tal falar em ditatura pareceu-me exagerado, uma democracia musculada ainda vá. E para esclarecer essa divergência, fui falar com ele no fim da sessão, e após essa conversa fiquei com menos certeza na minha posição.

Ora bem! Eu não gosto de ficar com dúvidas sobre os assuntos que me passam à frente e vai dai, fui para a Internet à procura de informação mais detalhada sobre o regime Iraquiano. Após pesquisa semi-intensiva na Internet fiquei na mesma e decidi entrar em contacto com bloggers Iranianos para ouvir a opinião deles na primeira pessoa.

Dos vários que contactei apenas um me respondeu, o – ou a? – Tori Egherman do blog View from Iran. Com a autorização dele/a transcrevo aqui os emails que recebi:

“Iran is not a dictatorship because it is not run by any one person or group. Despite all of its draw backs and problems and abuses, Iran does have a constitution and an evolving legal system.

It is more like a government of competing groups of oppressors. Is there a name for this type of government? Not sure. I would not call Iran a democracy just because it holds elections. A democracy needs independent civil institutions and a free press in order to thrive. Iran does not have many independent civil institutions and does not have a free press. In Iran, they joke that “we have free speech. We just do not have freedom after speech.” That’s the case.”

“Iran has a private press, but it is censored and harassed by the powers that be. People generally won’t have problems speaking their minds as long as they do not organize. So you can be on the street talking trash about the system as long as you are only talking to friends or to the butcher or the taxi driver and not trying to organize an opposition movement. There are topics that are off limits such as the Supreme Leader, who is now Khamenei.

If you are being watched by the Intelligence services, you could find yourself in a world of trouble for anything at all: your email, a satellite dish, alcohol. It just depends on how threatened the regime is by you.”

Ficaram esclarecidos? Eu fiquei. 🙂