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Fé vs Ciência

Alberto Gonçalves armou-se ontem no DN em teólogo no seu texto “Deus e os dados”. Tenta menosprezar a afirmação de Stephen Hawking (“Não é necessário que evoquemos Deus para iluminar as coisas e criar o universo”) com um texto filosófico completamente inócuo. Eu dei-lhe o troco na mesma moeda:
“Alberto Gonçalves, sociólogo com coluna no DN e com tiques de teólogo, acordou certa manhã e decidiu que Deus existe. Apesar de se dizer não crente acha que a fé é suficiente para justificar a existência de Deus e que a ciência não tem “poder” sobre a fé. Evoca Oakeshott, um filósofo conservador que faleceu há 20 anos, uma eternidade em termos de pensamento e descobertas cientificas, para justificar o erro que é misturar fé com ciência.

Já não vou a tempo de informar Oakeshott, mas posso informar Alberto Gonçalves que graças à psicobiologia, à neurobiologia e outras ciências semelhantes “brevemente” saberemos a origem da fé, que, digo eu, deve ficar alojada no cérebro algures entre a imaginação e o desejo. É óbvio que perceber porque e de onde vem a fé não vai acabar com Deus. Primeiro porque algumas (muitas) pessoas precisam de fé para aguentarem as agruras da vida e depois porque a religião é um industria absurdamente rentável e obviamente que os seus protagonistas não estão disponíveis para perder os seus rendimentos. Para Alberto Gonçalves Deus pode existir sem ser real, isto porque existe na fé, parente próxima do sonho, onde as coisas podem existir e não ter que dar provas da sua existência. Filosoficamente divertido, mas completamente irrelevante em termos de compressão da Nossa existência.”

(publicado na secção de leitores do DN de 7/Set/2010)

A filosofia ao serviço da ciência… ou será ao contrário?

“…Mas a linguagem deu mais valor à confiança e forçou-nos a uma atitude diferente naquilo que dizemos e ouvimos dizer. Se o vizinho da caverna ao lado avisa que está um leão atrás da colina há pouco a ganhar em ir lá ver se está mesmo. Em vez de nos basearmos em evidências acerca daquilo que é afirmado, avaliamos afirmações pela confiança na pessoa que o afirma. O que permitiu usar o conhecimento dos outros quase sem custos e criar estruturas sociais complexas. Permitiu a civilização. Mas pagámo-lo caro, com superstição, crendice, tretas e burlas que sem a confiança no que dizem não seriam possíveis. Muita gente está convicta de ter uma alma imortal só porque lho disseram. E só há poucos séculos é que finalmente pegou a ideia de separar factos e confiança. A ideia que podemos questionar aquilo que alguém diz sem ter de desconfiar da sua honestidade…”

Excelente artigo do Ludwig. Vale a pena ler no KTreta.