Deve ter sido há uns dois anos que vi uma foto de um atleta a correr na crista do Pico Gilbo. Disse logo: tenho de fazer esse trail. Assim dito, assim feito e a semana passada lá estava eu a apreciar aquela vista fabulosa.
A prova apareceu-me no facebook há umas semanas e eu rumei de imediato ao site onde em meia dúzia de cliques e 324 assinaturas COVID depois, estava inscrito.
Como era feriado Quinta-feira cá no burgo , tirámos a sexta e rumámos a norte. Riaño fica a cerca de sete horas de Leiria, mesmo na sombra dos picos da europa. Aliás, nós no Sábado fomos dar uma voltatita até Cangas de Onis, uma das cidades de ataque aos Picos. As vistas são tão monumentais que até um simples passeio de carro é de deixar os olhos felizes e contentes. Que o digam as largas de dezenas de motards Portugueses com quem nos cruzámos.
Não sei como tem sido nos outros anos, mas este ano a prova completa foram 3 etapas, 40km, 30km e, a última de 24 km, 1.400 metros de desnível acumulado e subida ao monte Gilbo. As inscrições são para as 3 etapas, as duas últimas ou a última, opção que escolhi.
Max elevation: 1652 m
Min elevation: 1011 m
Total climbing: 1544 m
Total descent: -1475 m
Average speed: 10.29 min/km
Total time: 05:46:59
A prova vai de sexta a domingo, com uma etapa por dia, e conta com um campismo oficial onde os atletas menos forretas ficam alojados e se alimentam. Não fica nada barato, por isso optámos por ficar no campismo de Rianõ que tem uma vista invejável, para o Gilbo e todos os picos das redondezas, a barragem e ainda para o campismo da prova que fica mesmo por baixo ?. Além disso come-se lá bem e barato. É só vantagens!
Aliás, tem uma desvantagem: a vista para o Gilbo. Como podem verificar pelas fotos, a crista é bastante estreita e aquilo é um bocado alto. Nunca tinha estado num local como aquele e não fazia a ideia de como me iria comportar. Iria a organização ter de me esmurrar para eu me acalmar? Devia levar fraldas?
Aquele pico perseguiu-me constantemente e na noite antes da prova quase não dormi.
Chegado o grande dia, dirigimo-nos para a pequena aldeia de montanha de Salamon onde pouco depois começaram a chegar, além de outros atletas em viatura própria, os autocarros com os atletas. Dezenas e dezenas deles todos magrinhos! Pánico!!! Não há gorditos? Só magritos? Nããããõooooo!!!!!
Abordei o Depa (o skeaper estrela das provas em Espanha) e queixei-me de só haver atletas profissionais, mas ele descansou-me: “há muita malta que vem para se divertir, que fazem tudo a andar”. Está bem abelha! Não foram precisos mais que 4kms para ficar sozinho com toda a gente lá para a frente 😛
A prova é muito gira, e logo após saída da aldeia e passagem do primeiro monte ficámos com paisagens típicas de montanha. A prova segue com paisagens simpáticas até ao segundo pico que proporciona uma subida fácil e de boas vistas. Segue-se a, não muito interessante, descida até Horcadas onde aos 15km está o abastecimento e de onde se sobe para o Gilbo. Sobe.. e bem! A subida ao Gilbo é a subida mais dura que já fiz (o facto de ter 17 kms nas pernas não ajudou). A subida é gradual até ficarmos perto da crista e os últimos metros são quase a pique. Aqui, as pernas não mexiam e a desgraçada da moça que vinha a tirar as fitas devia estar com vontade de me atirar da montanha abaixo. Mas passada a passada lá fui subindo, devagar, devagar, devagar….até chegar à crista! A crista… à minha frente dezenas de metros com a largura de uma faca gigante mal afiada e de um lado e outro, 500 metros abaixo, as águas azuis da barragem. Um sonho!!!!
Fingi que estava a aproveitar a vista enquanto procurava pelas pernas e comecei a caminhar pelo gume da faca. Uma centena de metros à frente, tive direito a um batedor que foi sempre à minha frente a indicar o caminho. Uma vezes no gume da faca, outras mais de lado. E assim foi até ao pico onde parei para apreciar a vista e fazer um vídeo panorâmico.
Depois veio a descida.. a pique, dura e sem pernas. Mas, porra! era a descer! Foi lento mas fez-se sem grande dificuldade e cruzando-me com alguns turistas que iam ver as vistas ou iam a descer. Por onde subimos não havia ninguém, mas desde lado não faltavam passeantes.
Descida feita, um par de kilometros ao longo da barragem e depois a mais longa ponte do mundo que, segundo me disseram tem normalmente 1km mas naquele dia tinha 10, mais coisa menos coisa. Chegado a Riaño, é só subir a escadaria do inferno, uns inacabáveis 30 ou 40 metros, e seguir para a reta final e ser recebido como só se é em Espanha; com o entusiamo de quem recebe o primeiro.
Parabéns Cláudio!
Não te felicito pela vitória na prova, mas pelo entusiasmo e pela honestidade. O exemplo perfeito do que às vezes se diz do desporto, que o que conta não é o resultado; é a participação.
Gostei de te ler. Poucos seriam os que escreveriam um relato de uma participação em que se ficou em ultimo. Tu fizeste-o com o entusiamo de quem venceu.
Para ti foi uma vitória. Continua a dar à perna…
🙂