Balcãs, dia 3: Saravejo

Foto após foto, vídeo após vídeo, texto após texto, Sarajevo é um compêndio de horrores. 
Em Saravejo a vida é pacífica e as pessoas muito simpáticas. Todos com quem falamos desejam que gostemos da Bosnia e todos querem saber de onde somos, sendo Portugal uma origem apreciada 🙂
O ambiente é calmo e não parece haver fricções entre os vários grupos étnicos/religiosos. Os croatas/católicos, os servios/ortodoxos e os bosniacs/muçulmanos (e outros) aparentam viver bem entre eles mas o passado recente é feio. 
Há cerca de trinta anos servios/ortodoxos achavam que todo este território devia ser deles e fizeram o possível e impossível para tentar acabar com bosniacs/muçulmanos.  É mais complicado claro, mas o principal passa por isto.
Museu após museu lá vamos vendo as desgraças a que foram submetidos. O cerco de 4 anos a Saravejo com snippers a alvejar civis na rua e bombardeamentos constantes, as valas comuns, as torturas, as violações, etc, etc. 
Só lá vão 30 anos! Muitas das pessoas com quem nos cruzamos passaram por isto e de certeza que de ambos os lados. Não pode ser fácil conviver com estas memórias. Um dos textos em um dos museus era o testemunho de um snipper que tinha pesadelos com uma rapariga que lhe perguntava porque a tinha assinado. Ele acabou por se suicidar. 
Em um vídeo aparece um dos comandantes servios a mostrar a um convidado (um repórter russo se não me engano) as posições de metralhadoras no alto da montanha apontadas à cidade. Pergunta-lhe se que disparar e ele experimenta…
Os relatos sucedem-se…
Os museus não são meigos e não poupam nas imagens e nas descrições e é difícil não pensar no que se está a passar na Ucrânia e em Gaza, especialmente em Gaza que me parece ser semelhante ao que se passou aqui: extermínio dos muçulmanos nos “nossos” territórios. 
É impressionante saber que tudo isso aconteceu há tão pouco tempo e quão pouco eu sabia sobre o assunto muito em parte, não tenho dúvida, da minha falta de interesse na altura por acontecimentos internacionais. 
E pronto, devemos fechar por aqui o capítulo da guerra. Amanhã vamos mudar a agulha e dar uma vista nos arredores de Sarajevo. 🙂


Laís

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