Crónica de 10 de Agosto no Região de Leiria
O sentimento de pertença a um grupo é um sentimento extremamente forte e provavelmente vem dos tempos pré-históricos em que os humanos viviam em pequenas tribos familiares e a união da família/tribo contra as outras na luta pelos recursos era um factor de sobrevivência.
Hoje em dia, esse instinto básico é explorado ao máximo muitas vezes irracionalmente como no desporto e na política:
– Os clubes de futebol não passam disso mesmo, clubes de futebol; e no entanto há malta que anda à pancada por eles.
– Muitos adeptos de partidos defendem o seu partido mesmo quando as politicas defendidas pelo partido vão contra os seus interesses.
Há estudos interessantes que mostram que mesmo grupos criados “artificialmente” fomentam o sentimento de pertença e o desejo de o nosso grupo vencer aos outros mesmo que os grupos ganhassem mais se colaborassem (vale MESMO a pena ler o Previsivelmente Irracional do Dan Ariel sobre esta e outras burridades do raciocínio humano).
É óbvio que existem grupos, e é óbvio que alguns grupos que têm interesses opostos e de importância para a vida das pessoas (não de certeza os clubes de futebol!) mas convém não aceitar cegamente discursos fáceis e populistas de “a culpa é do grupo X”.
hhhhmm..quase que escrevi outra crónica… isto foi só uma introdução sobre o assunto que tem muito para dizer. A crónica que saiu no RL começa aqui:
Mitt Romney, milionário e candidato à presidência dos EUA paga, segundo o próprio, cerca de 15% de impostos1, valor abaixo da média nesse país2. Warren Buffet, autor da célebre frase “Há uma guerra de classes, mas é a minha classe, a dos ricos, que a está a fazer, e estamos a ganhar”3, afirma que paga em percentagem menos impostos que os seus empregados4.
Os políticos Norte-Americanos que defendem impostos baixos para os ricos, dizem que são os ricos que criam riqueza e emprego e como tal devem ser favorecidos para poderem criar ainda mais5. Mas, e quem vota nessas ideias, fá-lo também por essa razão? Há quem diga que não6, que quem vota a favor de baixos impostos para os ricos, fá-lo porque acha que também um dia será ric@ e, como tal, está a votar para proveito próprio.
Este optimismo exagerado é típico nos EUA, e se por cá esse defeito é raro, existem males parecidos: há muitas pessoas que se identificam com discursos anti-outros sem se aperceber que estão mais perto desses outros do que do autor do discurso.
Da próxima vez que ouvir uma figura pública a culpar os desempregados, os funcionários públicos, os imigrantes ou até – pasme-se! – os homossexuais7 pelos problemas do país, pense duas vezes antes de apoiar esse discurso, é que provavelmente quem o está a fazer, também está a pensar em todos nós que usamos serviços públicos.
O texto também pode ser lido no site do Região de Leira.
1 http://www.cbsnews.com/8301-503544_162-57360230-503544/romney-admits-he-pays-lower-tax-rate-than-most-americans/
2 http://www.taxpolicycenter.org/briefing-book/background/numbers/international.cfm
3 http://www.commondreams.org/headline/2010/10/06-5
4 http://www.nytimes.com/2011/08/15/opinion/stop-coddling-the-super-rich.html
5 http://johnsoncitypress.com/Opinion/article.php?id=94054 não é o link que eu queria encontrar, mas para agora vai ter de servir…
e Não São os Ricos Que Criam Empregos, São os Consumidores
6 Ouvido no podcast point of inquiry http://www.pointofinquiry.org/… mas não faço ideia em que episódio
7 http://www.peticaopublica.com/PeticaoVer.aspx?pi=P2012N22192
Nem de propósito voltou à baile esta conferência do TED : Não São os Ricos Que Criam Empregos, São os Consumidores