Category Archives: Crónica no Região de Leiria

Crónica no Região de Leiria : Gigantes Entre Nós

Crónica de 8 de Junho.
Desde já as minhas desculpas ao CFAE do Concelho de Alcobaça e Nazaré que, por motivos de falta de espaço, não foi mencionado na crónica.
A  conferência na Nazaré mencionada na crónica pertence a um ciclo de conferências organizado por esse centro.

Espero que gostem da crónica, é provavelmente a minha favorita 😉

Nunca se soube tanto sobre tanta coisa e no futuro saberemos ainda mais. O acumular de conhecimento que temos deve-se única e exclusivamente a nós, humanos, e à nossa curiosidade de aumentar o nosso saber. O nosso grande cérebro permite-nos ser curiosos, observar, descrever, teorizar. Tudo actividades fundamentais para aumentar o conhecimento, que não seriam úteis se não o pudéssemos preservar e partilhar.

Felizmente, a evolução dotou-nos da capacidade de efectuar uma ampla variedade de sons, que usamos para expressar as nossas ideias e formular as nossas dúvidas. É que apesar de o repositório do conhecimento por excelência serem as palavras escritas, elas dificilmente poderiam ter sido escritas com tanta sabedoria se não fossem antes discutidas oralmente. É a feliz conjugação de um bom pensador com um bom orador que transforma um Homem num gigante; poder ouvir e até debater com um deles é um privilégio e sem dúvida a melhor maneira de aprender e de ver mais longe.

Infelizmente, os gigantes não costumam aparecer aqui pela província tanto quanto seria desejável, mas recentemente fomos brindados com a presença do Carlos Fiolhais que veio à Livraria Arquivo falar da história da ciência em Portugal e do Cláudio Torres que na Biblioteca Municipal da Nazaré nos falou de arqueologia e islamismo em Portugal. Excelentes conferências, venham mais!

O texto também pode ser consultado  no Região de Leiria online e na edição em PDF do Região de Leiria.

Crónica no Região de Leiria : Adaptados ou parasitas?

Crónica de 18 de Maio.

A minha opinião sobre o Darwinismo social aproveitando os descontos do Pingo Doce como exemplo.

Na minha cabeça estava melhor, mas a passar para o papel perdeu-se um bocadito, em parte por falta de jeito, em parte por falta de espaço.

 

“A sobrevivência dos mais aptos” é uma expressão usada para descrever a teoria da evolução de Darwin e significa, grosso modo, que as espécies menos adaptadas perdem a corrida da sobrevivência para as mais bem adaptadas.

Desta teoria nasceu o darwinismo social, que prevê que os indivíduos melhor adaptados serão os “sobreviventes” das batalhas sociais. No extremo, esta teoria pode ser usada para desculpar e até louvar atitudes egoístas e pouco éticas que, por vezes, encaixam perfeitamente no termo tão português que é o “desenrascanço”.

Eu refuto este extremismo do vale tudo em nome da “sobrevivência”, porque na espécie humana, como em muitas outras, quem tem de ser o mais apto para sobreviver não é o individuo, mas sim a sociedade, e esta deve ser encarada como um ser vivo. Só sobrevivem as sociedades nas quais a maioria dos elementos coopera para o bem geral e os indivíduos que não funcionam segundo esta lógica agem como parasitas que corroem essa mesma sociedade.

Sem prejuízo para outros tipos de parasitas, parecem-me dignos de reflexão os desacatos que aconteceram um pouco por todo o país causados por “simples” descontos. Foi em nome deles que pessoas roubaram, empurraram e desrespeitaram. Penso que é uma desculpa fraca para o que se passou e serve para nos alertar para o que pode acontecer se houver uma verdadeira situação de emergência.

O texto pode ser consultado no Região de Leiria online e na edição em PDF do Região de Leiria.

Crónica no Região de Leiria : Deus não Mora em Lojas

Crónica de 27 de Abril .

Pensei que era desta que ia ter direito a hate mail, mas pelos vistos ninguém me liga 😉

Deus é a resposta fácil às perguntas para as quais não temos uma resposta boa e é consequência da nossa dificuldade em aceitar a resposta “não sei”.

Por mais que não o aceitemos, há situações na vida que estão fora do nosso controle, dependem do acaso e de variáveis que não dominamos e não é por rezar ou fazer sacrifícios que elas mudam. Se é verdade que se obtém com essas atitudes algum conforto psicológico, não é menos verdade que o preço a pagar é por vezes demasiado alto.

É em nome desse conforto e na procura dessas inócuas respostas que todos os anos milhares de pessoas põem em causa a sua saúde com peregrinações fisicamente duras e muitas vezes também o seu sustento com donativos incompreensíveis. É penoso ir a Fátima nesta altura do ano e ver, na loja de promessas que é o Santuário, pessoas a humilharem-se porque têm a triste ilusão que os lojistas têm uma cunha com Deus e que Ele ficará agradado por os ver de joelhos naquele local.

Nunca percebi esse conceito de um Deus bondoso que exige sacrifícios aos seus seguidores e omnipresente mas que precisa de ser contactado através de intermediários. É provável que a “simples” Razão não seja suficiente para entender este fenómeno e que para o fazer seja necessário ser “abençoado” com Fé. Mas a fé, mais que o amor, é cega e como tal má conselheira, por isso acho que dispenso o privilégio.

O texto pode ser consultado no Região de Leiria online.

Crónica no Região de Leiria : Elogio à Bicicleta

Crónica de 5 de Abril :

É com grande agrado que vejo aumentar no distrito, ano após ano (pelo menos nas zonas que frequento regularmente), a oferta de infra-estruturas para quem quer usar uma bicicleta nos seus tempos de lazer. São já muitas dezenas de quilómetros que podem ser feitos em pistas próprias em total segurança e também muitos os trilhos fora de estrada marcados para os ciclistas todo-o-terreno fazerem o gosto ao pedal. 

E o mais importante também não falta, pessoas dispostas a usar toda esta oferta. Dá gosto ver que são cada vez mais as que usam a bicicleta nos seus momentos de lazer, mas curiosamente é mesmo só nesses momentos.

Este hábito de andar de bicicleta teima em não passar para o quotidiano, o que me surpreende e parece-me que muitas das desculpas usadas não fazem sentido. Quem conhece a Europa, especialmente de França para “cima”, já pôde constatar que mesmo quando faz frio ou chove, mesmo quando há inclinações, mesmo quando não há pistas, é normal ver pessoas a usar a bicicleta no dia a dia. Pelos nossos lados, nem os estudantes universitários as usam.

É certo que há outros motivos, e alguns eventualmente mais válidos, mas não é possível que todas as pessoas os tenham todos os dias. O nosso clima é ameno e o terreno de desníveis suaves, não acham que vai sendo tempo de deixar de precisar do automóvel como se do ar que respiramos se tratasse?

O texto pode ser consultado no Região de Leiria online.

Crónica no Região de Leiria : Maravilhas ou Negociatas?

Crónica de 16 de Março :

Não podia estar mais de acordo com o Rui Tavares quando escreve no Público de 5 de Março que “Aquilo de que precisamos mais do que nunca, num jornal, é uma explicação de como as coisas funcionam. As pessoas já sabem das notícias, já ouviram os comentários, mas continuam a querer tentar entender como funcionam as coisas.”

Por exemplo, não preciso de um jornal que me diga que o arroz de marisco da Praia da Vieira foi eleito como uma das 7 Maravilhas Gastronómicas de Portugal. O que eu quero saber é quanto custou e a quem. E não me refiro só ao valor da candidatura, devem existir montantes “escondidos”, desde gastos com publicidade a jantares oficiais, entre outros que nem imagino e que temos o direito de saber. E além disso, passados 6 meses, e com o prémio esquecido por quase todos, convém apurar resultados e descobrir se valeu a pena, ou seja, houve impacto mensurável na economia local?

Porque uma coisa é certa, ao ritmo que as empresa organizadoras, a EIPWU e a New 7 Wonders Portugal, vão inventando concursos, não tenho dúvidas que, pelo menos para eles, vale a pena. Para quem paga, e que normalmente são entidades públicas, é que já não sei. E visto que estamos à beira de mais uma euforia incompreensível à volta de maravilhas, desta vez em versão praia e mais uma vez paga, pelo menos parcialmente com dinheiros públicos, gostava de saber.

O texto pode ser consultado no Região de Leiria online.

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Este assunto cheira-me MUITO a esturro. Já tinha escrito sobre ele AQUI (não é muito diferente, mas tem alguma informação que não coube no artigo).

Só por curiosidade alguém acha mesmo possível o turismo dos Açores ter pago 1,5 milhões de Euros pela organização da festarola sem ter garantido que recebia uma ou duas maravilhas independentemente da votação das pessoas?

O mundo dos concursos com votação é uma diversão.  Sabem que há empresas que inventam prémios para dar aos clientes para eles poderem na sua publicidade dizer “votado pelos consumidores como a melhor marca de <escolher categoria>”?
Não há votação nenhuma, mas como ninguém investiga, tudo bem…

Crónica no Região de Leiria : Trinta euros menos um

Crónica de 24 de Fevereiro :

“Um familiar que faleceu deixou-lhe alguma coisa a que dá muito valor”. Esta é uma frase que pode ouvir de um mentalista/médium e que se aplica a muitas pessoas, afinal todos temos familiares que já faleceram. Se a isso juntarmos o facto de quem recorre a um mentalista estar potencialmente fragilizado e agarrado a recordações do falecido, há uma probabilidade muito forte de a afirmação estar certa. No caso de estar errada, pode-se sempre dizer “ainda não está na sua posse, mas vai estar” ou “é uma memória, não um objecto”.

Estas e outras técnicas formam o que é conhecido por leitura a frio, um sistema usado pelos mentalistas para fazer afirmações vagas que o cliente vai interpretar como certeiras. Este sistema aproveita as muitas falhas do nosso cérebro, como por exemplo a memória selectiva (esquecermos o que não nos interessa) que juntamente com  a tendência de confirmação (darmos mais credibilidade à informação em que acreditamos) fará com que o cliente esqueça os erros do mentalista. No fim, jurará a pés juntos que “ele disse que a minha tia Gertrudes me deixou aquele relógio que uso sempre”.

Não passam de truques de circo, mas nas mãos de vigaristas têm o condão de esvaziar carteiras, como é o caso dos “trinta euros menos um” que a TVI, o canal do tele-lixo, e duas … pessoas querem subtrair a quem quiser ser enganado ao vivo em Leiria.

O texto pode ser consultado no Região de Leiria online.

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Para quem não sabe, a empresa que faz a treta do “depois da vida” é a mesma que faz a treta do “Até à Verdade” na  SIC. A empresa, de seu nome Planeta Ideal, tem um belo portefólio de vigaristas disponíveis.

No site deles ficamos a saber que para assistir ao “Depois da Vida” é preciso ir a um casting e na folha de inscrição para o casting é perguntado se nos morreu alguém nos últimos 3 meses. Giro, não?

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Para quem se interessa pelo assunto, aconselho estas duas belas (adjectivo talvez um pouco parcial) leituras:

Aprenda a ser um vidente em 10 lições; folheto traduzido por mim e que explica os truques usados no negócio

Fraudes, aldrabices e outras Parvoíces; folheto da minha autoria a explicar alguns erros cognitivos e como devemos ser mais criticos em relação ao que nos é dito/apresentado/impingido.

Crónica no Região de Leiria : A Migração

Crónica de 3 de Fevereiro

O texto desta semana :

São às centenas e todos os anos durante Janeiro e Fevereiro migram da Europa que se encontra debaixo de frio e gelo para a Europa com sol (sim, é aqui!). Alguns ficam só durante um fim-de-semana, outros ficam durante várias semanas e outros, como é o caso do multi-campeão do mundo e actual nº 1, o Francês Thierry Gueorgiou, vão e vêm de modo a estarem presentes nas 3 provas que se realizam em Portugal nesta época a contar para o campeonato do mundo.

Dessas 3 provas, uma vai ser realizada no concelho da Marinha Grande durante o fim-de-semana de 25 e 26 de Fevereiro e é uma oportunidade única de ver competir alguns dos melhores atletas do mundo.

Mas não é só isso, é muito mais. É uma oportunidade para sair da rotina, para contactar com outras realidades, outras pessoas e até de se aventurar a participar lado a lado com as “estrelas”. Lembra-se da fórmula da felicidade que apresentei na minha primeira crónica? Uma das leis dizia que “Podemos aumentar a nossa Felicidade aumentando o valor que damos ao que temos”.
É disto que tratava! Aproveitar o que de melhor temos à mão, não ficar em casa quando a festa esta à porta.

Não tenha vergonha, não tenha preguiça, não invente desculpas. O XIII Meeting de Orientação do Centro está aí e vai animar a Marinha Grande durante um fim-de-semana. Vai valer a pena ir ver e, porque não, participar.

O texto pode ser consultado no Região de Leiria online.

O site da prova pode ser consultado AQUI

Crónica no Região de Leiria : Liberdade vs Respeito

Crónica de 13 de Janeiro

O texto desta semana :

Que todos temos direitos e liberdades é do conhecimento geral. O que já não parece ser tão conhecido é que o exercício das nossas liberdades acaba no direito dos outros. É uma regra básica de uma sociedade funcional: é preciso respeitar o direitos dos outros se queremos que eles respeitem os nossos.
Encontrar o equilíbrio entre liberdades de uns e de outros é uma tarefa mais difícil do que parece e depende de bom senso e respeito, bens que parecem estar em falta no mercado.

O comportamento em salas de espectáculos é particularmente complicado. Existe em Leiria mais de uma dúzia de restaurantes de pipocas onde projectam filmes. Apesar de à entrada estar escrito “cinema”, é sabido que nesses espaços há a liberdade de comer, beber, conversar, usar o telemóvel e estar nos “melos”. Tudo liberdades que interferem com o direito das pessoas que pagaram bilhete para ver o filme.
Mas o normal nesses espaços é o exercício dessas liberdades e quem lá vai já sabe o que vai encontrar e só se tem de respeitar e aceitar. Se não lhe agrada a ideia, o melhor é não ir.

Em alternativa, existe uma sala, o Teatro Miguel Franco, onde as pessoas vão para exercer o seu direito de Ver cinema. Será pedir muito que, pelo menos aí, esse direito seja respeitado e que as pessoas abdiquem, durante duas horas, das liberdades que incomodam quem quer Apreciar um espectáculo?

O texto pode ser consultado no Região de Leiria online.

Já agora, podem ouvir o Bruno Nogueira sobre o mesmo assunto :  Cinema no Zoo

Crónica no Região de Leiria : falam, falam…

 

Crónica de 23 de Dezembro

O texto desta semana, em versão completa (sem “censura” imposta pela ditadura do espaço e número de caracteres), mas que é praticamente igual ao publicado,  foi :

“A participação em actividades políticas para além do voto varia substancialmente entre os países europeus. É mais alta na Noruega e Finlândia e menor na Turquia e Portugal.” 

Este parágrafo, tirado do relatório da OCDE “How’s Life? Measuring Well Being” (Como Está a Vida? Medindo o Bem-Estar, OCDE Publishing, 2011), com dados de um inquérito de 2008 feito em 23 países europeus, não traz nada de novo sobre os Portugueses, mas é sempre importante termos as nossas percepções confirmadas por dados empíricos.

São desanimadoras as baixas taxas de participação dos portugueses em relação à média Europeia. Por exemplo,conseguimos um “excelente” último lugar na pergunta “já boicotou algum produto”, com 3,2% a responderem afirmativamente (a média foi de 14,4% e no topo temos a Suécia com 37,3%).
E se vos parece um indicador parvo, desenganem-se! A economia tem muito poder, mais que a política, e por acaso até manda nela. Se há actividade simples que podemos exercer para influenciar o nosso “ecossistema” social/político/económico é boicotar produtos/marcas.

Foi por isso sem surpresa que li no Região de Leiria de 25 de Novembro sobre a baixa participação dos batalhanses na elaboração do orçamento municipal.

Enfim, nada de novo… Os Portugueses falam, falam, mas só quando não vale a pena. Porque quando lhes perguntam alguma coisa, ficam calados.

O texto publicado pode ser consultado no Região de Leiria online.

Crónica no Região de Leiria : A Morte Anunciada

Crónica de 2 de Dezembro

Quem leu a minha primeira crónica não fique com muitas expectativas, esta está muitos alguns 😉  furos abaixo. Já agora em relação a essa crónica saliento que não é uma crónica contra a riqueza e os bens materiais, mas a favor da cultura, da “rua” e das pequenas coisas. Há uma grande diferença 🙂

O texto desta semana, em versão completa (sem “censura” imposta pela ditadura do espaço e número de caracteres) foi :

Aproxima-se uma época especial. Após três meses a baixar, o Sol atinge o seu ponto mais baixo no horizonte para voltar a subir. É o solstício de Inverno e para os povos antigos, que obviamente não sabiam astronomia, representava o fim do perigo de o Sol continuar a descer para nunca mais nascer, mergulhando-os numa noite eterna. Desde a antiguidade essa época é, por isso, celebrada como o (re)nascimento do deus Sol e ao longo da história foi incorporado em diversas tradições sob a forma de data de nascimento de deuses, como é o caso de Mitra, Dionísio ou Jesus.

 Os tempos das superstições estão a desaparecer rapidamente, mas o evento continua a ser celebrado de uma maneira especial e única do ano. É a altura em que após um ano a ignorarem os problemas alheios as pessoas são inundadas pelo famoso espírito natalício, tão intenso como efémero. Mas também é altura de sentimentos genuínos, pois é o pretexto por excelência para reencontros familiares, e é celebrado com grandes jantaradas e abundância de lembranças gerando o consumismo, mal-amado por muitos mas inegavelmente ligado a esta época.

 Mas o que é consumismo para uns é sobrevivência para outros. Muitos são os estabelecimentos comerciais que atravessam o ano com dificuldade na esperança de equilibrarem as contas nesta altura do ano. Infelizmente, cada vez mais as pessoas recorrem aos “shoppings”, abandonando o comércio tradicional e os centros das cidades, condenando ambos a uma morte inglória (como já aconteceu na Marinha Grande).

 Evitar esse desfecho é um dos desafios do poder local e não me parece que a opção de cruzar os braços em nome da contenção orçamental seja o caminho a seguir. É nas alturas difíceis que se vêm os grandes decisores e estou certo que muito pode ser feito com criatividade e cooperação entre as partes envolvidas.

O texto publicado pode ser consultado no Região de Leiria online.