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e-mail enviado ao DN relativo a notícia sobre acupunctura

Assunto :  Noticia sobre acupunctura na capa do suplemento DN Classificados do dia 1 de Fevereiro

Pode ler-se no estudo citado no artigo e disponível na Internet : “encontrámos significantes, mas não clinicamente relevantes, benefícios para quase todos os resultados secundários nos três grupos de acupunctura em comparação com o grupo controle” e acaba com “Interpretação:  a acupunctura testada parece ter um efeito clinicamente menor/de pouca relevância sobre a profilaxia da enxaqueca em comparação com acupunctura falsa.” (tradução minha, favor ver texto original).

Infelizmente, e como de costume, os dados apresentados na noticia são tendenciosos e omitem os resultados que não confirmam o esperado por quem faz a noticia.Além disso, não é de menor importância referir que o estudo não é duplo-cego, ou seja, quem aplicava o tratamento sabia que estava aplicar um método de controle, e isso faz toda a diferença, especialmente quando estamos a falar de tratamentos cujo resultado é obtido graças aos “mimos” que são passados ao paciente e não graças ao tratamento em si.

Também é de  salientar que no site oficial do governo Norte-Americano em que este estudo foi registado não foram colocados dados sobres os resultados o que, na minha opinião, aconteceu porque os resultados não foram o que esperavam.

E depois de uma noticia tendenciosa sobre um estudo médico ainda se dão ao desplante de fazer publicidade. Fico com a ideia que aquilo não é uma noticia e sim um infomercial feito conscientemente e quem sabe até pago pelo Centro de Terapias Chinesas.
Podem consultar a noticia do estudo em : http://www.cmaj.ca/content/early/2012/01/09/cmaj.110551
Podem consultar o estudo aqui : http://clinicaltrials.gov/show/NCT00599586
Nota que devia ser desnecessária para jornalistas que usam estudos interpretados pelos interessados: nunca, mas nunca confiar nas sínteses/traduções feitas por eles.

 

ACTUALIZAÇÃO : Resposta do Provedor do DN (em tempo record!!!!, demorou menos de 2 hora)

Caro leitor Cláudio Tereso:

Procurei inteirar-me do assunto que me apresentou e fui informado de que o suplemento DN Classificados é inteiramente comercial, pelo que a questão foi remetida à Direção Comercial. Agradeço-lhe, no entanto, o alerta, que foi enviado ao diretor comercial, não vá dar-se o caso de o DN estar a incorrer, involuntariamente, em publicidade enganosa.

Com os meus melhores cumprimentos

Oscar Mascarenhas

Provedor do Leitor do DN

(provedordoleitor@dn.pt)

 

ACTUALIZAÇÃO 02/03/2011 :  Texto do provedor no DN de 18 de Feveiro

O segundo episódio surgiu porque um leitor muito atento, Cláudio Tereso, procurou confirmar informações no que pensou ser uma notícia. Tratava-se de um texto sobre os méritos da acupunctura no alívio de enxaquecas, publicado na primeira página do caderno “Classificados”. Como o texto referia conclusões de uma revista científica, o leitor deu-se ao trabalho de verificar e apurou que a publicação concluía exatamente o oposto do que era referido no texto do DN: a acupunctura tradicional chinesa não tem efeitos muito diferentes da sham acupuncture (acupunctura fingida) no alívio de enxaquecas.

Procurando saber como é que tal informação fora publicada no DN, fui informado pela Direção que a inserção do texto foi da responsabilidade da Direção Comercial. Esta confirmou que o artigo era “da responsabilidade do Centro de Terapias Chinesas, enviado pela agência de comunicação Inforpress”.

O leitor, aliás, já suspeitava que fosse um artigo publicitário, mas protestava pelo facto de não aparecer qualquer referência expressa a publicidade. “Defendeu-se” a Direção Comercial: “Efetivamente, o 2.º caderno do DN é na sua totalidade um caderno comercial, logo toda a informação aí contida é de âmbito comercial pelo que, automaticamente, se encontra ao abrigo da publicidade.”

A verdade é que a explicação não convenceu o leitor – nem a mim. Na mesma página em que aparece esse artigo há três pequenas referências “Publicidade” a outros tantos anúncios. Se o artigo principal não a tem é porque não é “Publicidade” – ou alguém quer deixar o leitor no equívoco. E tem sido essa a prática em todas as primeiras páginas do caderno “Classificados”. Isso é inaceitável. A Direção do jornal, como primeira responsável por tudo quanto nele se publica, seja informação, seja publicidade, informou-me que vai por termo a esta “ratoeira” ao leitor.

in DN

ACTUALIZAÇÃO 02/03/2011

Estive agora a consultar o DN e o artigo de capa do caderno “Classificados” do DN já vem enquadrado com a indicação: “CONTEÚDO COMERCIAL”.

palminhas para mim … :- )

JCN e o Natal

João César das Neves escreveu no DN um conto de Natal que só lembra ao Diabo.

Podem ler aqui e aqui. Em resposta enviei ao DN o seguinte e-mail:

Já não nos bastava termos os políticos a enfiarem-nos a austeridade pela goela abaixo enquanto nos tentam convencer que a culpa do estado da economia é nossa e o caminho por onde nos querem levar é para nosso bem. Pelo vistos, temos também de aturar os religiosos a dizerem-nos que não só devemos aceitar este caminho, mas que o devemos fazer  caladinhos e até ficarmos agradecidos por podermos mostrar o nosso valor nesta dura provação. Não há nada mais hipócrita que vir, de barriga cheia, dizer a quem vai passar fome, que deve aceitar esse fardo (como um burro carrega o seu) que isso o levará ao céu. Pensei que já nos tínhamos visto livre deste discurso há uns séculos atrás, mas pelos vistos está de volta e como não podia deixar de ser pela mão de João César das Neves que no seu conto de Natal em forma de evangelho da desgraça divide as pessoas entre “grandes apóstolos, os mártires heróicos, pastores atentos, doutores sublimes, virgens puras, santos incomparáveis” e nós, as pessoas normais, aliás os burros. É um texto medonho, sem qualquer respeito pela igualdade entre as pessoas, uma memória de tempos passados e que não traz nada de bom. Ler os textos de JCN e ouvir Ratzinger apelar à humildade dentro das suas vestes douradas é uma amostra da sua visão distorcida do mundo: eles de barriga cheia com direito automático ao céu por serem doutores, e nós, os burros, que temos direito ao céu se aceitarmos caladinhos o que nos querem impor. Esta conversa da treta funcionou em tempos quando os “doutores” conseguiam manter as pessoas analfabetas, não funcionará agora.

Como estava com a mão na massa respondi também a esta crónica do Anselmo Borges:

Publicado muito ligeiramente modificado abreviado na secção de leitores do DN em 30/12/2011

É hilariante ver Anselmo Borges, um representante de uma religião que dominou o mundo durante séculos usando como arma a interpretação tendenciosa e interesseira de um conjunto de textos de ficção, vir-se queixar de José Rodrigues dos Santos fazer o mesmo. Os estudiosos da bíblia sabem perfeitamente que a esmagadora maioria da bíblia é ficção. Sabem que quem escreveu a bíblia nunca conheceu Jesus o que torna as suas histórias, e até a existência de Jesus, muito provavelmente falsas. Sabem, mas não se preocupam, o que interessa é os crentes não saibam. Não lhes interessada se os textos são falsos ou verdadeiros, basta-lhe que os crentes acreditem. e sempre  que sai a publico informação que coloca as pessoas a duvidar, ficam histéricos e reagem dizendo “…mas isso não é novidade nenhuma”. Sinceramente, já não há paciência para tanta hipocrisia e falsidade.

Carta aberta à DGC : Provável publicidade enganosa da empresa “Club Natura” aos produtos de magnetoterapia

Resumo : A empresa Club Natura vende produtos de magnetoterapia, um suposto tratamento médico que alivia dores e que segundo o próprio site mostra-se de modo geral “eficaz contra todo o tipo de patologias”.
Parece-me que a Club Natura vai longe demais nas suas afirmações e o site e a publicidade (que aparece diariamente no Diário de Notícias) apresentam fortes indícios de publicidade enganosa. Este texto enviado para Direcção Geral do Consumidor e vários meios de comunicação social tem como objectivo chamar a atenção para o exagero que se comete a promover “medicamentos” de efeito duvidoso.
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Nota Prévia : Não sou médico e por isso não tenho autoridade para fazer prova das minhas dúvidas.

Não afirmo nada, deixo a tarefa de comprovar, ou não, as dúvidas que tenho sobre a empresa e respectiva publicidade para a DGS. Não posso no entanto ficar calado enquanto vejo essa empresa publicitar no Diário de Noticias diariamente como “clinicamente comprovado” algo que não me parece ter fundamento.

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carta aberta enviada às seguintes entidades:
Para: Direcção Geral do Consumidor
Com Conhecimento:Diário de Noticias, Publico, Correio da Manhã, TVI, SIC, RTP

NOTA: Apresento esta “queixa” para que não aconteça o mesmo que aconteceu quando rebentou o “escândalo” com as pulseiras power balance em que a DGS se refugiou na resposta “não recebemos queixas” para nunca ter actuado sobre a empresa (queixa que me apressei a apresentar e da qual apesar de ter recebido uma resposta nunca recebi uma resposta definitiva).
Para que não possam usar a mesma resposta caso aconteça algo semelhante com a “Club Natura” aqui ficam as minhas preocupações sobre a empresa.
PUBLICIDADE NO JORNAL
1. Na publicidade que a empresa coloca no DN, afirma:
Clinicamente comprovado. Numerosos estudos clínicos confirmam que se trata de uma técnica …. que proporciona excelentes resultados para aliviar qualquer tipo de dor
 Actualização  26/05/2015: o site dreamsalud.com onde se podia ler o estudo está offline e ainda não o encontrei em mais lado nenhum
Ao consultarmos o site da empresa encontramos referência a um estudo (http://www.clubnaturasalud.com.pt/magnetoterapia/queEs.php?sec=2&idioma=2) que pode ser lido aqui:
Eu não sou médico mas parece-me que um estudo que não menciona grupo de controlo não tem qualquer espécie de validade, algo que não acontece, por exemplo neste estudo :
The Effectiveness of Magnet Therapy for Treatment of Wrist Pain Attributed to Carpal Tunnel Syndrome  onde é indicado claramente um grupo de controlo tratado com placebos  e cuja conclusão é:
The delivery of a unipolar static magnetic field through a magnetized device directly applied to the point of greatest wrist pain resulted in no significant difference in relief of pain when  compared with an identical placebo device.
Segundo sei, a maioria dos estudos médicos chega à mesma conclusão: que a magnetoterapia tem tanto efeito como tratamentos placebo. Julgo não estar enganando ao considerar que a afirmação “clinicamente comprovado” é falsa e como tal publicidade enganosa bastante grave visto se tratar de um produto da área da saúde.
2.”aval” de Dr Diogo Crespo.
Também me levantam algumas dúvidas o “aval” do Dr. Diogo Crespo que segundo o site da Ordem dos Médicos só pode ser o Dr. Diogo Manuel de Sousa Macedo Crespo (único Diogo Crespo inscrito na ordem que se pode consultar aqui : https://www.ordemdosmedicos.pt/?lop=listamedicos) aposentado em 2009 (conforme Diário da República http://dre.pt/pdf2sdip/2010/03/047000000/1059610599.pdf).
Qual a experiência do Dr Diogo com a magnetoterapia? Usou-a? Com que bases afirma ele na publicidade que a magnetoterapia “favorece a circulação sanguínea e acelera a regeneração celular“? Nem o estudo apresentado pela empresa Club Natura fala nesses benefícios.
E já agora, espero que a fotografia que aparece no anúncio mesmo ao lado do seu testemunho seja mesmo do Dr Diogo Crespo, senão parece-me que é mais um abuso por parte da Club Natura.
INFORMAÇÕES NO SITE
3. resultados positivos diferentes do apresentados no estudo
Na página http://www.clubnaturasalud.com.pt/magnetoterapia/queEs.php?sec=2&apto=2&idioma=2 a Club Natura apresenta os resultados positivos da magnetoterapia. Os resultados são tirados do estudo citado, mas as conclusão do estudo não são bem as mesmas.
O estudo cataloga os resultados conforme os resultados obtidos em 4 categorias:nulo, mais que suficiente, bom e excelente.
Os autores do estudo consideram positivos os resultados bom e excelente, mas a Club Natura decidiu que também havia de incluir os “mais que suficiente” nos positivos o que se traduz numa média de 24% mais resultados positivos que os apresentados no estudo.
4. Testemunhos Apresentados
 Actualização  26/05/2015: o site Espanhol da Club Natura já não tem magnetoterapia 
Como é possível haver testemunhos iguais  apresentados por pessoas diferentes?
Se comparamos os testemunhos do site Espanhol do Club Natura : http://www.clubnaturasalud.com/magnetoterapia/recomiendan.php?sec=4&idioma=1 com os do site Português : http://www.clubnaturasalud.com.pt/magnetoterapia/recomiendan.php?sec=4&idioma=2 verificamos que são os mesmos ditos por pessoas diferentes. Nos casos em que o nome deu para traduzir de Espanhol para Português os nomes até são parecidos nos outros foi colocado um nome completamente diferente.
Pode-se dizer que os nomes das pessoas não interessam, mas isso não é verdade. Se não interessassem não estavam no site. As pessoas gostam de se identificar com outras com o mesmo problema, por isso a importância de ter testemunhos na primeira pessoa. Se não tiveram pudor de alterar completamente os nomes, apresentando pessoas que não existem, que garantias temos de que os testemunhos são mesmo reais?
5. Afirmações
De um modo geral o site está cheio de frases que são no mínimo de veracidade duvidosa e no máximo completamente falsas e que carecem de provas cientificas/médicas.
Exemplos:
Todas as doenças partem de uma única causa, «o desequilíbrio celular”. Diz-se que uma célula se desequilibra celularmente, quando um electrão dos átomos que a constituem fica solto, ou seja, não se liga a outro (é aquilo que em ciência se conhece como um radical livre electromagnético).
Por esse motivo, a magnetoterapia ajuda a repolarizar os átomos das células, oferecendo àqueles que a utilizam uma melhora acelerada na maior parte das suas patologias.
Utilizando ímanes sob a forma de colares, pulseiras, caneleiras e anéis, é possível aumentar a energia pessoal, prevenir os desequilíbrios no estado de saúde, estimular a circulação do sangue e formar células novas que rejuvenescem os tecidos do corpo.
Benefícios que a magnetoterapia produz:
 Aumenta o oxigénio nas células.
 Elimina fluidos e gases.
 Reduz a retenção de líquidos.
CONCLUSÃO : Parece-me haver fortes indícios de que a empresa Club Natura faz afirmações médicas não fundamentadas o que me parece extremamente grave e merecedor de uma investigação apurada.
Sinceramente, Não percebo como é que para se colocar um medicamento baseado em “medicina tradicional” sejam precisos um batalhão de testes e estudos a confirmar que o medicamento realmente faz o que diz enquanto as “medicinas alternativas” podem vender o que quiserem fazendo as alegações mais disparatas sem que sejam alvo qualquer espécie de controlo.
Agradecia que a DGC estivesse mais atenta às “medicinas alternativas” e às suas reivindicações.
sem mais,
Cláudio Tereso

Actualização 23/4/2019

O polígrafo escreveu um artigo semelhante sobre produtos semelhantes. Vale a pena ler:

https://poligrafo.sapo.pt/sociedade/artigos/sd

Actualização  31/10/2011

Já há alguns dias que o “aval” do Dr. Diogo Crespo desapareceu da publicidade do DN.
Gostaria de pensar que a minha queixa teve alguma coisa a ver com esse facto, já seria uma pequena vitória 😉

Actualização 15/11/2011: Resposta da DGC

Exmº SenhorCláudio Tereso
Pedindo desculpa pelo atraso e em resposta à exposição que nos enviou, informamos que sem prejuízo das competências da DGC em matéria de publicidade, a sua situação foi remetida, nesta data, para a ERS – Entidade Reguladora da Saúde.

Constituem atribuições da ERS a regulação e a supervisão da actividade das entidades prestadoras de cuidados de saúde. Cabe à ERS velar pelo cumprimento das obrigações legais e contratuais dos regulados, no que respeita ao acesso dos utentes aos cuidados de saúde, à observância dos níveis de qualidade e à segurança e, genericamente, aos direitos dos utentes.

À Direcção Geral do Consumidor cabe encaminhar as reclamações e queixas dos consumidores para as entidades reguladoras e garantir o seu acesso aos mecanismos extrajudiciais de resolução de conflitos de consumo (Centros de Arbitragem e Centros de Informação Autárquica ao Consumidor), entre outras atribuições definidas na Portaria n.º 536/2007, de 30/04.

Para o acompanhamento do assunto sugerimos que contacte a ERS, cujo horário de atendimento das 9:00 às 12:30 e 14:00 às 17:30h  nos seguintes endereços:

Morada: Rua S. João de Brito, n.º 621, L 32, 4100-455 Porto
Telefone: 22 209 23 50
Fax: 22 209 23 51
E-mail: geral@ers.pt

Com os melhores cumprimentos,
CF
Divisão de Apoio e Informação ao Consumidor

Actualização 16/11/2011:Enviei à ERS o seguinte email:

Recebi da DGC o e-mail abaixo transcrito que indica ter sido reencaminhada para a ERS a minha “denúncia”. Agradecia que assim que houver – se houver – alguma conclusão  e se tal for possível/normal que me informassem.
 

As deculpas de JCN

E-mail enviado ao DN em resposta à “Santa Vergonha” do Sr. Neves:

João César das Neves sofre de uma perturbação psicologia chamada dissonância cognitiva que consiste em alterar ou menosprezar os factos quando estes não batem certo com a nossa crença. 

Não só vai ao ridículo de catalogar a inquisição de benevolente para a época, de culpar os turcos pelas cruzadas como ainda tem o descaramento de considerar que as acusações à Igreja (inclusive as de pedofilia) apesar de verdadeiras, são descabidas e injustas!
É absolutamente espantoso que o homem que anos atrás “condenou” a homossexualidade ao inventar uma ligação directa entre esta e a pedofilia, venha agora desculpar a Igreja desse mesmo crime.
Sr. Neves, para quando uma crónica a criticar a Igreja e o Sr Ratzinger pelo vergonhoso comportamento de ocultação dos crimes de pedofilia cometidos dentro dessa “sagrada” instituição? Ou acha mesmo que existe desculpa para esse.s actos? 
Não sei se a hipocrisia é pecado, mas é definitivamente um sentimento “pouco católico”.

 

“Obrigadinho pela vergonha”

Coluna do Ferreira Fernandes no DN de 3/3/2011:

A todos os bancários com 58 anos que estão há dez anos na reforma. A todos os jornalistas com dentaduras como teclados de piano pagas quase de borla antes que lhes tirassem essa trafulhice. A todos os maus professores que subiram na carreira só porque passaram tantos anos no ensino quanto os passados pelos bons professores. A todos os mestrandos com idade para saber que nunca exercerão o que estudam, mas que vão aproveitando porque entretanto sempre vai pingando a bolsa obtida graças à influência de um familiar. A todos os condutores de Mercedes que o têm porque o seu nível de patamar do emprego diz “direito a carro de classe X”, quando a qualidade com que exercem o trabalho seria mais para andar de burro. A todos os autarcas que fizeram obras em casa e não precisaram de pagar por elas. A todos, pobres e ricos, donos de jantes de liga leve e filhos com educação ainda mais leve. A todos os que lá em casa bebem vinho vulgar mas durante a semana, com factura metida na tesouraria da empresa, hesitam entre o Pera Manca e um Quinta do Crasto Vinha Maria Teresa. A todos os empresários que declaram às Finanças prejuízo e aos amigos declaram que este ano vai ser Maldivas. A todos: obrigado. Ontem, vendo os meus feitores, humildes e com a boina enrodilhada nas mãos, prestando contas à dona alemã da quinta, senti a minha parte da vergonha. Mas a todos, obrigado: graças a vocês sei que há maiores culpados.

A hipocrisia da moral

E-mail enviado ao DN em resposta à homilia do Sr. Neves:

“João César das Neves meteu-se em problemas há alguns anos ao estabelecer uma relação causa e efeito entre a homossexualidade e a pedofilia. Pelo vistos tornou-se mais cuidadoso, agora ao estabelecer uma relação semelhante entre a homossexualidade e o homicídio fá-lo discretamente; “Quando surgem as tragédias, inevitáveis em estilos de vida desviantes…”.  Refere-se claro ao homicídio de Carlos Castro, mas nunca o menciona.

A defesa da moral e bons costumes é um exercício difícil de exercer sem cair na hipocrisia, e ao atacar semana após semana  e até à exaustão os “estilos de vida desviantes” sem nunca exercer semelhantes exercícios entre “celibato/pedofilia”, “família tradicional/violência domestica” ou até “família tradicional/pai que vai à missa/incesto”, João César das Neves demonstra não ter a estatura moral necessária para o fazer.

Quer a Igreja Católica queira, quer não, os problemas existem (e sempre vão existir) em todos os estilos de vida, tentar atirar as culpas para os estilos de vida que não aprova faz com continue a ser parte do problema e não da solução.
Segundo ouvi dizer, Jesus pregava a tolerância. Porque é que a Igreja Católica, que se diz sua representante, não o faz também?”

Para quem acha que a Wikileaks só ataca os EUA

Rui Tavares sobre  a Wikileaks:

“…Mas não deixa de ser uma enorme ironia que a wikileaks possa ter crédito a reclamar por uma revolução democrática no médio-oriente arabo-islâmico. O Ocidente suspirou — ou fingiu suspirar — por essa fugídia criatura todo este tempo. Invadiram-se dois países, morreram centenas de milhares de civis e milhares de soldados, gastaram-se biliões de dólares, passaram dez anos. E, num mês e meio, a wikileaks teve sucesso onde a NATO falhou.”

Contos e moralidades bacocas

E-mail enviado ao DN em resposta ao “conto de natal” do Sr. Neves:

Os contos e as suas respectivas parábolas, analogias, morais e lições de vida não são espelhos da realidade. São visões distorcidas e parciais da visão que o autor tem sobre o mundo.

No seu ternurento conto de Natal, João Cesar das Neves faz uma analogia entre a crise financeira e a nossa divida com deus. Bonito (especialmente se tirarmos o fundamentalismo mais básico da frase “A única forma verdadeira de viver é numa total e profunda dependência deste Deus que nos dá tudo.”) mas parcial, é claro. Analogia idêntica podia ser feita entre a crise financeira e o “nosso” investimento feito em deus : “Pedro investiu tempo, suor, sangue e dinheiro na sua fé em deus, teve um azar na vida e quando foi pedir dividendos do seu investimento descobriu que deus era virtual (uma espécie de fraude em pirâmide), e não só não obteve dividendos como perdeu todo o seu investimento.”.

Qual dos dois contos está certo? Ambos e nenhum! São Estórias, servem para entreter, mais nada!

Fé vs Ciência

Alberto Gonçalves armou-se ontem no DN em teólogo no seu texto “Deus e os dados”. Tenta menosprezar a afirmação de Stephen Hawking (“Não é necessário que evoquemos Deus para iluminar as coisas e criar o universo”) com um texto filosófico completamente inócuo. Eu dei-lhe o troco na mesma moeda:
“Alberto Gonçalves, sociólogo com coluna no DN e com tiques de teólogo, acordou certa manhã e decidiu que Deus existe. Apesar de se dizer não crente acha que a fé é suficiente para justificar a existência de Deus e que a ciência não tem “poder” sobre a fé. Evoca Oakeshott, um filósofo conservador que faleceu há 20 anos, uma eternidade em termos de pensamento e descobertas cientificas, para justificar o erro que é misturar fé com ciência.

Já não vou a tempo de informar Oakeshott, mas posso informar Alberto Gonçalves que graças à psicobiologia, à neurobiologia e outras ciências semelhantes “brevemente” saberemos a origem da fé, que, digo eu, deve ficar alojada no cérebro algures entre a imaginação e o desejo. É óbvio que perceber porque e de onde vem a fé não vai acabar com Deus. Primeiro porque algumas (muitas) pessoas precisam de fé para aguentarem as agruras da vida e depois porque a religião é um industria absurdamente rentável e obviamente que os seus protagonistas não estão disponíveis para perder os seus rendimentos. Para Alberto Gonçalves Deus pode existir sem ser real, isto porque existe na fé, parente próxima do sonho, onde as coisas podem existir e não ter que dar provas da sua existência. Filosoficamente divertido, mas completamente irrelevante em termos de compressão da Nossa existência.”

(publicado na secção de leitores do DN de 7/Set/2010)

Os GPS são perigosos, mesmo quando não existem!

Ninguém sabe exactamente como aconteceu o acidente. O que se sabe é que a atleta de orientação (desporto em que se usa mapa e onde o GPS além de proibido é completamente inútil) caiu e lesionou-se.

Vejam a reportagem da RTP sobre o assunto e tirem as vossas conclusões.

Eu não acredito que o repórter tenha inventado de propósito, acho que por alguma razão chegou aquela brilhante conclusão. 

Para mim, o que importa reter, é que se têm de ter sempre muito cuidado com o que ouvimos/lemos antes de acreditarmos. Sai uma rodada de espírito critico, sff!