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Fade In

“É com prazer, com descarada pretensão, e com assumida imodéstia, que volto a assinar, ainda que avulso, a página de um jornal onde semanalmente escrevi durante 14 anos. Foi aqui que ao longo de quase década e meia rubriquei os primeiros artigos de opinião e as primeiras críticas de alguns dos nomes regionais que hoje singram nacional e internacionalmente. Aqui, escrevi sobre o potencial e o talento inato de David Fonseca mesmo antes deste formar
os Silence 4. Aqui me debrucei sobre os The Gift muito antes da crítica em geral, e aqui vaticinei, em primeira mão, sobre Mikroben Krieg, Phase, The Allstar Project, Born A Lion, Loto, Yesterday, Dapunksportif, ESC, Gomo, entre tantos, tantos outros…
Por isso, hoje, num acto egocêntrico e com laivos de desavergonhado narcisismo, apetece-me partilhar com
todos vós, não uma qualquer descoberta de um novo talento artístico do burgo, mas o imenso orgulho que sinto em
liderar um projecto único, que vem dando cartas desde 2001, e o qual, valter hugo mãe, escritor agraciado com o
prémio literário José Saramago, assim definiu: “Em Leiria, um grupo de malta sexy criou o Fade In, que é como quem
diz, uma contínua oferta de boa música, escolhida a dedo entre a vanguarda mais excitante do
planeta”. É sem exagero que vos digo que o Fade In é um projecto ímpar em Portugal.
Primeiro, porque embora tenha a mais que legítima aspiração, não tem qualquer tipo de apoio institucional como nos casos do Theatro Circo, CAE, Casa da Música ou ZDB, todos eles fortemente apoiados pelas respectivas câmaras municipais. É, aliás, sem nenhum pudor que afirmo peremptoriamente que a qualidade da programação musical anual do Fade In está à altura da de qualquer uma destas instituições. Segundo, porque é gerido por um pequeno grupo de voluntários não remunerados da qual sou apenas a face mais visível, que na sua militância fazem, simultaneamente, os papéis de mecenas, dinamizadores culturais, e de vendedores de sonhos. Terceiro, porque apesar de todos estes condicionalismos, apresenta no seu exuberante e transversal currículo de quase 100 artistas, alguns dos nomes mais reputados do universo e, para mim particularmente, algumas das grandes bandas da minha vida: Laibach, Michael Gira, Silver Mt Zion, Deine Lakaien, Combichrist, Xiu Xiu, Das Ich, In The Nursery, Sieben, Matt Elliott, Ataraxia, Von Magnet, Jarboe, Diary Of Dreams, Spiritual Front, Qntal, Final Fantasy, Die Form ou Smog. E dizer-vos que vi todos estes artistas, ao vivo, sem sair da minha cidade, seria coisa impensável há meia dúzia de anos, sobretudo se observarmos o facto de muitos deles terem sido estreias absolutas e datas únicas em Portugal!
Que mais será preciso fazer para que a nossa edilidade abrace sem timidez o projecto Fade In, erguendo-o com uma das suas bandeiras de cultura viva, aproveitando a sua dinâmica, personalidade e o seu reconhecimento transnacional, para afirmar Leiria como pólo único de cultura diferenciada na Península Ibérica? Haja coragem!”

Carlos Matos in Jornal de Leiria